O Coração das árvores (2020) Ζωγραφική από Diego José Lopes

Intervir é a palavra adequada quando se toma uma providência indubitavelmente necessária.
Eram por volta das cinco e quinze da madrugada, o avião sobrevoava a floresta tropical amazônica, a maior das tropicais do mundo. Alguns a conhecem simplesmente por Amazônia, seu nome deriva da lenda das Amazonas, guerreiras da mitologia grega que não aceitavam homens em sua tribo, comandadas por Hipólita que mandava matar as crianças do sexo masculino ao nascerem. Quase todos os cinco milhões de quilômetros quadrados de uma floresta de difícil transposição, com árvores que formam uma sequência de copas altas, geralmente trinta metros. Parte de um todo, o pulmão do mundo, de clima sempre quente e úmido, tamanha é sua importância que influencia as chuvas em vários estados do Brasil. De complexa e inigualável biodiversidade é o lar de milhões de espécies de insetos, dezenas de milhares de espécies de plantas, mais de mil espécies de aves, três mil espécies de peixes, quatrocentos e vinte e sete espécies de mamíferos, quatrocentos e vinte e oito espécies anfíbios, trezentos e setenta e oito espécies repteis, entre noventa e seis mil a cento e vinte oito mil espécies de invertebrados, classificados cientificamente “até o momento”. O terreno mais inóspito do mundo, sendo preferível, dependendo do seu preparo, escolher o deserto para se perder. Lar dos anfitriões mais dóceis do planeta, a suçuarana, sucuri, enguias elétricas, piranhas, o jacaré-açu, sapos e cobras venenosos, morcegos vampiros que transmitem a raiva, inúmeros parasitas e vetores de doenças. Todo esse ecossistema vivendo apenas com a presença de pesquisadores em áreas isoladas e varias tribos indígenas, algumas delas totalmente isoladas da civilização, além do que não se conhece o que ainda não foi encontrado pela dificuldade de acesso. E é claro, “ela” a rainha da selva, a onça pintada.
Henrique acordou num pequeno chacoalho do avião, conferiu as horas e notou uma luz incandescente do lado de fora do avião próximo à turbina, esfregou as mãos no rosto e forçou a vista para ver melhor, quando uma explosão de faíscas o surpreendeu. “O que é isso?” pensou, olhando em volta. Antes que ele acordasse alguém, as luzes acenderam-se, subitamente o avião inclinou-se para a direita como se estivesse fazendo uma curva brusca e caíram as máscaras de oxigênio.
- Atenção todos passageiros, aqui é o co-piloto Andrias, estamos passando por problemas técnicos, apertem os cintos e coloquem as máscaras.
Iniciou-se um pânico geral, agravado assim que a asa direita foi partida em meio ao fogo e explosões do lado de fora do avião. Tudo aconteceu muito rápido, as luzes piscando, junto à asa, na parte direita, abriu-se um buraco, criando um vácuo que puxou algumas pessoas.
- Andrias, temos que fazer um pouso forçado!! – gritou o piloto.
- Senhor, a asa direita já era!
- O que temos abaixo de nós?
- A Amazônia!!
A palavra deriva-se do grego onde “A” significa “sem” e “Mazôn” significa centro, sem centro. A triste coincidência, o fato de não ter uma das asas fez que com o avião perdesse seu centro de gravidade tornando impossível o pouso forçado, acabando com as chances de sobreviventes, exponencialmente.

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