img-6566.jpg Pintura por Margarida Andrade

Uma das coisas que retiro é o excesso da presença humana na natureza que aqui cresce. De onde venho a natureza tem liberdade total para se formar naturalmente.
O contraste torna-se óbvio.

Quando chegava, perante um jardim, tornava-se inevitável sentir-me quase sufocada. De natureza tinha pouco, achava eu. Durante estes últimos meses, visitei vários jardins da cidade e as cercas, prédios, fontes, candeeiros, bancos, enfim tudo o que fosse fruto da intervenção humana causava-me um choque visual quase instantâneo. Não combinavam, pensava eu. ´

Fui me habituando. Habituei-me tanto ao ponto de, quase sem me aperceber, alterar a minha maneira de ver e até pensar. Habituei-me de tal maneira que o resultado, por incrível que pareça, é o fruto de uma familiarização e, até me atrevo a dizer, ligação entre mim e a natureza daqui. Consegui abstrair-me. Concentrei-me única e exclusivamente na luz, nas manchas de cor, nas linhas, nas sensações. Tudo o que fiz foram representações de recantos naturais daqui.
Não os odeio. Gosto mais dos meus, não negarei, mas quem não gosta mais do que é seu por direito? E talvez quando regressar de lá e visitar os mesmos sítios outra vez voltarei a ter o choque, o sufoco.

Talvez seja um ciclo vicioso.

Talvez.

Por agora vivo bem.


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One of the things I gathered is the overwhelming human interference in the nature that grows here. . Where I come from nature has complete freedom to form naturally.
The contrast becomes obvious.

When I stood before a garden, it became inevitable To feel almost suffocated. That´s not nature, I thought. Over the past few months, I visited several city gardens and all the fences, buildings, fountains, lamps, banks, in short, everything that was the result of human intervention caused me a visual shock almost instantaneous. Did not match, I thought.
I started to get used to it. I got used to it to the point, that, almost without realizing, my way of seeing and even thinking was altered. Became used to it in such a way that, oddly enough, the outcome was a familiarization and, I even to dare say, a connection between the nature here and me. I was able to ignore it. I focused solely on the light, on the colour speckles, the lines, the sensations. From that point on, all I did were representations of natural places from here.

I do not hate them. I like mine better, I will not deny, but who does not like most what is rightfully theirs?
And maybe when I return from home and visit once more these places, the shock and the feeling of suffocation will surface
again.. Perhaps it’s a vicious cycle.

Perhaps.

For now I live well.