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Rono Figueiredo

Voltar para a lista Adicionado dia 27 de jun. de 2006

Arte no Brasil – Conceito tropical

Arte no Brasil – Conceito tropical
Adelyne Lacerda

Traçar um panorama sobre a arte brasileira hoje, impõem uma grande responsabilidade para quem o faz. Seria uma prepotência dizer quais os artistas que mais se destacam num cenário tão promissor, em uma das nações mais proficientes (competentes) em artes visuais.
Porém já é possível perceber que uma “mudança de conceitos” tem aberto as portas de museus, galeria, e principalmente lares, para o que se produz hoje no país.
O espectador e o crítico procuram enxergar através do olhar do artista e não mais somente o que está na tela (suporte).

Há pouco tempo o mercado cultural demonstrava uma grande estima pela “arte conceitual” e atualmente vemos que isso está ultrapassado. O artista brasileiro, em sua maioria, continua resgatando elementos vindos da vivência individual e coletiva porém de modo mais subjetivo, experimentando todas as possibilidades de linguagens estéticas. É moderno e criativo, sem se distanciar de sua memória afetiva e cultural. Constrói uma realidade buscando no passado as referências. Por isso, quase sempre, em uma obra de arte original e contemporânea, observa-se a presença de elementos regionais mas de uma forma bem mais implícita.

Arte no Brasil também é um exercício de resistência. Num país onde ainda se convive com desigualdades sociais, o consumo de cultura ainda é muito complicado. Mas isso está mudando aos poucos com o surgimento de uma instigante produção contemporânea e com a postura de uma nova geração de artistas que parece menos preocupada com a mídia, críticos de arte e opiniões técnicas. É claro que todos querem sobreviver do que produzem, mas o que se observa é um desejo maior pelo reconhecimento popular. Atingir, sensibilizar cada vez mais pessoas que entendam sua poética, sentimentos, linguagem... e que o consumo possa se tornar então, apenas uma conseqüência desse entendimento.

Com esse perfil encontramos uma nova safra de artistas do Nordeste do país, a exemplo de Romero Brito, Rono Figueiredo e Menelau Sete, sendo os dois últimos nascidos na Bahia - estado conhecido no mundo inteiro por suas riquezas naturais e culturais, pelo colorido tropical de suas praias e do carnaval de rua com sua autentica musicalidade. Pois nas artes plásticas os baianos seguem a tendência dessas vibrações, cada um com suas referências particulares, porém com linguagem própria. Nesse cenário podemos destacar o jovem artista plástico, Rono Figueiredo que assim como Menelau e Romero - já conhecidos em Nova York- começa a conquistar os americanos através do magnetismo de sua arte. Rono surge com todos os elementos que se encaixam no atual panorama e se destaca pela originalidade do traço limpo, linear, firme e cheio de personalidade. Tem o que se pode chamar de “identidade” inconfundível. É como ver um quadro de Pablo Picasso sem assinatura e dizer: é um Picasso!

A arte de Rono é divertida, alegre e ao mesmo tempo introspectiva. O mistério está sempre presente no olhar de suas mulheres estilizadas. Seja na série “África” ou na “As faces de Maria” – título de sua primeira exposição individual em cartaz na galeria do Theatro XIII, o espaço cultural mais “cult” da capital baiana , a cidade de Salvador.

Em “As faces de Maria” Rono abusa das cores vibrantes que perecem querer explodir na tela ao serem contidas pelo forte contorno preto – característica principal de sua obra. Seus desenhos são simples mas bastante expressivos e nos remetem a personagens de histórias em quadrinhos.
Nessa série o artista homenageia mulheres do cotidiano da cidade e personagens da sua cultura. Em Abaeté – tela exposta na galeria N° 22, em Londres - Rono recria uma típica lavadeira da lagoa do Abaeté, um dos pontos turísticos mais visitados no mundo.

“Procuro retratar diferentes raças e etnias em situações do cotidiano valorizando formas e curvas. O nome “Maria” por ser muito comum no Brasil foi uma forma de criar uma identificação entre as mulheres e as personagens representadas na minha arte”, disse Rono Figueiredo sobre o motivo dessa homenagem.

Já na série “África”, o artista investiga suas raízes mas rompe as amarras através de uma linguagem singular. Não está preocupado com o “discurso” sobre arte conceitual e sim com a comunicação com o público através da expressão de sua poética. E nisso ele é fantástico. Utiliza os tons terrosos com muita propriedade e a técnica mista ao criar com cera, acrílica e papel seda, texturas inusitadas.

”Esta série tem bastante influencia da cultura africana, com seus simbolismos, crenças e costumes. Seria impossível ficar imune a uma cultura tão rica e tão presente em minha cidade. O resultado é fruto de pesquisa e vivência nesse lugar tão rico em manifestações culturais”, complementa o artista.

Rono tem estilo próprio mas é claro que sua obra também sofre influências de outros artistas como o cromatismo de Frida Khalo e o desenho de Modigliani. Mas são pequenas referências em sua memória perceptiva. A personalidade desse artista já é tão forte que não deixa dúvidas ao bom observador que tivesse que arriscar identificar uma pintura dele sem assinatura. “sim, esse é um Rono Figueiredo”, diria sem pestanejar.

Veja outras obras de Rono:

Artmajeur

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