Adicionado dia 18 de abr. de 2008
O legendário Theo
Antes de qualquer coisa, para quem não o conheceu bem, vale destacar alguns dados biográficos de JOSÉ THEODOMIRO DE ARAUJO.
Afrânio era um simples distrito de Petrolina-PE, lá pelos idos de 1937, quando Theodomiro nasceu no dia 18 de abril. Durante sua formação acadêmica, pela Escola Agronômica da Bahia, já se preocupava com o desenvolvimento do Vale do São Francisco, enquanto liderava os movimentos estudantis.
Aos 24 anos, pela Comissão do Vale do São Francisco, foi nomeado Chefe do Posto de Irrigação de Caripós. Com a criação da SUVALE, exerceu o cargo de Chefe do Serviço de Valorização Rural, em Juazeiro- BA, tendo coordenado a implantação dos projetos Bebedouro, Mandacaru, Maniçoba e Curaçá. Agrônomo pioneiro em diversos tipos de culturas no vale, foi o responsável pela introdução das primeiras mudas de uva no sub-médio São Francisco.
Como empresário, foi criador da primeira empresa privada a trabalhar com fruticultura diversificada na região. Tendo se afastado da empresa, em 1976, passou a colaborar pela CODEVASF- 2ª- DR, onde exerceu diversos cargos técnicos e de direção. Em 1989, representando a CODEVASF, foi eleito Presidente do CEEIVASF – Comitê Executivo de Estudos Integrados da Bacia Hidrográfica do São Francisco, cargo esse que ocupou até seus últimos dias de vida.
Criou diversas entidades importantes para o estudo e a defesa do Vale do São Francisco. Foi considerado um dos maiores estudiosos e conhecedores do rio. Quando falava sobre o tema, suas palavras eram sonoras e seguras, com a autoridade de quem não apenas conhecia o assunto, mas, principalmente, de quem tinha a vivência do Velho Chico. Sua produção literária, de estudos, de conferências e palestras, foi divulgada pelos mais importantes veículos de comunicação e, desde os mais simples aos mais sofisticados auditórios do Brasil e do exterior, sua oratória foi amplamente respeitada e aplaudida. Agraciado com vários títulos e galardões, já nasceu batizado com um título eterno; seu nome quer dizer: “aquele que acrescenta” (Yoseph) “dádivas do Senhor ao povo” ( Theodomiro).
Considerando sua maneira de ser e de atuar já na terceira idade, ele deve ter sido uma criança muito ativa, um menino másculo, daqueles que ninguém confunde quando olha o rosto no berço. Já rapaz, com sua fisionomia peculiar de nordestino autêntico, um nariz colossal, cabeça avantajada, um corpanzil, ele era inconfundível. Com todo o respeito, Theodomiro era uma carranca sanfranciscana viva. Destacou-se durante toda a vida, por sua obstinação interior que o impulsionava a ir avante (como manda a lenda das carrancas), fiel à lei da sua própria vontade, vencendo todos os obstáculos e impondo-se a seus antagonistas, com lealdade e ética, sempre dentro da regra do comportamento coletivo. Por isso mesmo, sempre pôde, ao dizer o que pensava, defender com garra as causas mais nobres. Foi cidadão completo, plenamente democrata.
Ainda menino forjou o caráter indômito de sertanejo que, na maturidade, lhe impedia ver obstáculos – nem mesmo a barreira da vontade alheia, jamais se acovardando diante do bom debate... , e como ele sabia debater! Sempre olhava o presente como um meio necessário para alcançar seus objetivos, sem compromissos morosos ou rodeios. Por tal motivo, sua vida passada sempre foi o celeiro de magníficos contos e “causos”, recordações boas, que ele próprio gostava de narrar, com maestria no uso da dialética. Nada afeito aos conchavos e aos acordos sombrios, Theodomiro lutou sempre para sugerir ao mundo uma lei contínua, límpida, honesta, onde a defesa do Velho Chico era a maior condição imposta.
Nasceu com o dote natural da liderança, por isso foi um bom chefe, um verdadeiro dirigente de ideais, destinado às grandes realizações e responsabilidades. Soube ser atual, moderno, acompanhou os tempos, essa coisa toda da tecnologia da informação, da Internet.
Certa feita, um importante jornalista do Rio de Janeiro, Luiz Octavio Pires Leal, especializado em assuntos de agricultura, ouviu uma entrevista do José Theodomiro num canal de televisão a cabo. Imediatamente telefonou para a CODEVASF, em Brasília, querendo saber mais sobre a figura genial daquele ilustre entrevistado. Queria conhecer pessoalmente o Theo. Não foi possível saber se eles se encontraram ou não, o fato é que Theodomiro era assim, capaz de conquistar a todos, fossem seus admiradores ou seus opositores. Ele não está mais corporificado entre nós. Mas as palavras continuam e, assim, farão a verdade vencer tudo.
Sobre o esplendor da região que tanto amou, citava: - “Um dos primeiros missionários a conhecê-lo - dizem - que do alto de uma colina, extasiado teria tido a seguinte expressão: "Que sermão imenso é por si só toda esta terra !"
Sobre as lendas do velho rio, contava: " Seria só a lenda de Iatí, cujas lágrimas de saudade formaram o rio, enchendo o leito calcado pelos passos dos guerreiros que se dirigiram para a grande guerra do norte, e jamais retornaram, dentre eles o seu noivo, cuja partida deixou em desespero o coração da cabocla, que todas as manhãs juntava ao rocio dos cerrados as lágrimas do seu pranto, que encheram a terra e brotaram no chapadão, formando a Casca d'Anta seguindo os passos dos guerreiros? “
Num de seus últimos discursos, em 2003, nas palavras dirigidas ao Vice Presidente da República, Sr. José Alencar, em função da questão da transposição das águas do São Francisco, Tehodomiro declarou como sendo o marco de sua vida as palavras de Dom Helder Câmara: “ É graça divina, começar bem. Graça maior é persistir na caminhada certa. Mas Graça das Graças é não desistir nunca”.
Por fim, o imaginário popular nos obriga a uma reflexão: - “seriam apenas as águas das chuvas o único motivo das cheias do rio São Francisco, em 2004? Não estaria novamente Iatí, com suas lágrimas, lamentando a morte do legendário guerreiro, justamente o noivo, que mais uma vez se foi para a grande guerra do norte?”
José Theodomiro, tua missão foi teu nome: “Aquele que acrescenta” “dádivas do Senhor ao povo”.
Minha técnica de pintura? Sim, de que valeria alguma técnica se não existissem as dádivas do Senhor!
GENTE ASSIM COMO THEODOMIRO É QUE ME FAZ SENTIR PRAZER EM PINTAR PARA ESSE MUNDÃO DE GENTE!
Luiz Roberto da Rocha Maia