Adicionado dia 15 de jan. de 2017
“Há quem veja na pintura de Waldomiro Sant’Anna, o Mirinho, uma “ingenuidade” que a aparência de sua temática induz. De fato, as praças silenciosas, os casais anônimos, as cidadezinhas umbrosas, à primeira vista são elementos indispensáveis aos “naifs”. É, porém, um equívoco. Se há algo que sobressai na pintura de Waldomiro Sant’Anna, é um entranhado trabalho de pintura, uma pintura em que não existe o alarde espetaculoso do fácil. E do concessivo. Esse á marca definidora de Waldomiro Sant’Anna: se a temática é reminiscente de suas vivências, a forma arquetípica das mulheres, as velaturas, a pincelada sempre ciosa da sobriedade, aparentemente jamais são transgressoras. Fala-se aqui do fácil, e seria, quem sabe, justificável que Waldomiro Sant’Anna se permitisse algumas rupturas. Os personagens, símbolo que povoam sua pintura, as mocinhas de vestidos curtos, a esquina entre o chapado do sol e o sombreado do bico de luz – ou o bar escondido nessas cidadezinhas de nossa infância – sobreviriam em agradáveis mentiras. Não é o caso, e porque não é o caso do Mirinho. Permito-me a uma ilação: Waldomiro Sant\'Anna é um pintor de silêncios – de contenção - por isso, também se trata de um artista que se encaixa na idéia da pintura tradicional. É o que certa crítica bulhenta por contemporaneidades de estardalhaços não entende. Claro, alude-se aqui à tradição – mas não de conservadorismo; trata-se antes de lirismo até onde isso busque o ambiente saudoso de um tempo que não é passado, mas que é presença. E fala-se, enfim, de contemporaneidade. Nada mais contemporâneo do que esta busca incessante, obsedante, na verdade, pela doce melancolia de um tempo perdido. . Evidentemente, sobram questões: quem disse que a angústia da pós-modernidade (se isso existe) só se faz na negação da arte e não na teimosia da procura da poética, da ternura, sem falsos pundonores modernosos? . Por isso, também, a insistência de Waldomiro sobre a pintura como uma arte que tem suas raízes na história, numa certa tradição. Na obra de Waldomiro Sant’Anna, a fidelidade ao pictórico se faz na busca do singelo, não do simples, nem do esquemático, e muito menos do corriqueiro. Para se ver uma pintura do Mirinho, há que se despir dos preconceitos dos que se esgotam na consideração especiosa dos formulários; e há que se olhar para a singularidade de um mestre que, entretanto, a todo o momento se policia para não ser virtuosístico. E isso justamente a despeito do que lhe é inegável - que é a sua maestria.” .