Luana Venson

Existe algo que insiste em permanecer.
Um traço, uma figura, um corpo que, mesmo despido de carne, ainda pulsa e olha de volta. Esta coleção nasce do que restou depois do impacto: caveiras, cores cruas, sobreposições carregadas de protesto, poesia e identidade. Kai surgiu primeiro nas telas como um acidente vital. Uma caveira com moicano, repetida quase sem intenção, mas com peso demais para ser ignorada. Quando percebi, ele já habitava meu gesto. Então precisei escavar.
Passei a desenhá-lo em páginas de sketchbook, onde sua forma se desfazia e refazia entre testes e estados de espírito. Em papéis A4, ele ganhou cor, corpo de gato, fones de ouvido, silêncios, traço branco sobre fundo escuro, até café virou tinta para tentar contê-lo.
O moicano nem sempre esteve presente, mas sim o que ele simbolizava: presença, sobrevivência, atitude que nunca deixou de pulsar. Em cada obra, um fragmento desse personagem atravessa os anos e versões de mim mesma. Kai aparece no caos e na contenção, nas flores e nas paredes, na lua e nas ruas. Às vezes fala, às vezes observa em silêncio. Mas nunca desaparece. “Tudo que Sobrevive em Mim” é o acúmulo dessas fases: é a pele que caiu, o osso que ficou, o gesto que sobreviveu.
Mais que um personagem, Kai é o eco visual de uma jornada emocional, intuitiva e contínua, que ainda não terminou. E talvez nem deva.

Criadas a partir de fragmentos de caixotes quebrados recolhidos na pista de skate da Arena Pantanal, em Cuiabá, as obras da série Keep Your Soul ressignificam aquilo que foi descartado. Marcas de uso, de quedas, de passagens — tudo se entrelaça como parte viva de um mesmo corpo coletivo.
A madeira carrega história urbana, vestígios de movimento e resistência. "Keep Your Soul" é ao mesmo tempo grito e lembrete: preservar sua essência em meio ao caos é um ato de coragem.

"Inked Soul" é uma aclamada série que recebeu menção honrosa e entrou para a seleção oficial profissional do IPA 2023 na categoria Fine Art Portrait. Esta colaboração entre Luana Venson e o fotógrafo Lu Oliari explora a efemeridade dos contextos cotidianos, navegando pela complexa interseção entre fotografia e arte digital.

A série retrata momentos efêmeros cuja ressonância se perpetua na alma daqueles que os vivenciam. "Inked Soul" convida o espectador a explorar o encontro entre o palpável e o digital, onde mais de 200 variáveis artísticas são disponibilizadas, onde se celebra a expressão artística e a criatividade que permeia nossas experiências cotidianas. Esta série não é apenas uma coleção de imagens; é uma jornada visual que desafia e enriquece nossa percepção da arte e da vida.

Criada durante uma passagem por Montevidéu, esta série nasce da escuta atenta — das ruas, das histórias e da música Meus 26, de Tim Bernardes. Cada obra carrega fragmentos de lambe-lambes arrancados do cotidiano da cidade, misturados a camadas de tinta, palavras e gestos. As composições tratam de lutas silenciosas: questões de gênero, fragilidade social e existência. A palavra “frágil” aparece como aviso, mas também como potência. Há algo de filosófico em reconhecer a força que existe no que parece quebrar. Montevidéu, com seus antiquários e personagens, atravessa tudo — como memória viva, política e poética.