Alfredo Duarte (Marceneiro Jr.) nasceu em Lisboa no Bairro de Campo de Ourique. Pertence a uma restrita família de artistas que se estabeleceu entre a música, o fado, a escultura e desenho. Terceiro, entre quatro irmãos, tem por antecedentes (avô), pelo lado materno, um oficial do exército que, mais tarde ao ser destacado para a GNR, entra em litígio com o regime e é exilado para Moçambique, pelo lado paterno, um avô homem oriundo do mundo operário, Alfredo Duarte, marceneiro de profissão na indústria naval, distingue-se, na área de marcenaria com obras artísticas expostas no Museu do Fado em Lisboa, compositor e fadista, fica na história do fado um marco do fado, um antes e depois Marceneiro, reconhecido como “O Patriarca do Fado”, e o Fabuloso Alfredo Marceneiro. Seu pai Carlos Duarte, secretário de uma grande empresa naval, também escultor, desenhador, morre aos 44 anos num desastre de viação a caminho de Espanha, ainda grava alguns fados em vinil. Inserido nesta linhagem, Alfredo muito cedo se revela vocacionado para as artes, primeiro para o desenho. Foi aluno do Grémio de Instrução e Liberal de Campo de Ourique. Faz parte de uma geração desiludida, castrada por um regime fascista que teimava em manter três frentes de guerra em África, adolescência conturbada sem futuro, que vê mais perto a cada ano que passa, a possibilidade de uma mobilização. Uma política, PIDE/DGS, leva a uma desilusão a descrença de um futuro próspero, o descrédito nas instituições, das escolas castradoras num país que é um deserto de cultura, amigos que desistem, que partem, fogem, abandonam os estudos, o objetivo é fugir, amigos são presos, outros que desaparecem, vizinhos que desaparecem sem deixar rasto, é de noite é sempre de noite, que os veem prender, são tempos sombrios para viver, Portugal um enclave, o oceano e uma Espanha franquista, fascista, um território quatro vezes maior que Portugal para atravessar até França, onde a Guardia Fronteiras espanhola disparava a matar e devolvia a Salazar ou morto, ou vivo. A outra possibilidade é pelo sul, fugir para norte de África, mas o barco nem sempre aparece. A censura, os livros proibidos, a resistência de livreiros que escondiam os livros em caixas, o movimento de cabeça do livreiro, o sinal que nos indicava a porta da escada, novos livros tinham chegado, Sartre, Lenine, a Sierra Maestra etc. Salazar fez mais comunistas em Portugal que Álvaro Cunhal, O Livreiro da Livraria FUTURA no seu bairro frente à igreja de Santo Condestável, um dia desapareceu. Livraria fechada e ninguém sabia dizer nada. Autodidata como muitos outros, foi a desenvolver as suas aptidões artísticas e com cerca de dezasseis anos, munido do equipamento de desenho, infiltrava-se na Feira Internacional de Lisboa (FIL), com outros jovens candidatos a artista, e aí inicia as primeiras experiências de trabalho artístico, dias e noites entusiasmantes, ano após ano, pintando painéis, letras e fazendo colagens, além de outras feiras, Beja, Santarém, etc.