Adicionado dia 19 de ago. de 2007
Um amigo que é artista
A arte é algo que permite conferir um estatuto a alguém que na verdade não tem capacidade para decidir sobre tal – o artista.
Para uns a arte é uma forma de expressão, para outros é uma profissão, e ainda para uns tantos é uma ambição. “Artista” é um estatuto atribuído a alguém que por circunstâncias várias aceitou sujeitar-se à apreciação e, consequentemente, crítica de um colectivo qualquer, mais ou menos predisposto a apreciar e dar opinião sobre o que lhes é dado “ver”.
Ao longo dos anos tenho convivido com o Victor e acompanho-o enquanto colega e estudioso do comportamento humano. Num dia destes, vai para algum tempo, fui confrontado com uma realidade, a pessoa conheço e preocupada com a felicidade dos outros e por vezes entregue à angústia partilhada por aqueles que desejando fazer algo se sentem impotentes, era, afinal um artista, não por opção própria, mas porque outros assim o classificaram. E ainda bem que o fizeram.
Olhei, e olho, atentamente as suas telas e não posso deixar de nelas encontrar a representação simbólica de quem encontrou, predominantemente, nas cores, e por vezes nas formas, aquela que é a sua herança académica e que o empurra, teimosamente, para a busca do que há de comum entre todos os seres humanos: a célula, um cérebro e o potencial dos diferentes órgãos dos sentidos.
As telas do Victor são falsamente equilibradas, nelas há um tema que é transversal e que através das formas e dos contrastes se consolida: não há um EU nem os OUTROS, mas um permanentemente NÓS. A desigualdade humana é desafiada nas desconstruções que lhe são impressas na ausência de imagens nítidas e óbvias, excepto aquelas que denunciam, quase que em forma de GRITO, que somos todos humanos.
Nas obras que nos são dadas a apreciar prevalece a imagem do belo e do simples que a cor e a forma transmitem, mas quem se limitar a ver nas telas apenas cor e forma, na realidade nada viu, porque no seu conjunto as telas expostas compõem-se como uma mensagem que o autor construiu, sem palavras, é verdade, mas que no simbólico de cada uma delas se transforma num discurso que é breve, que é claro, que é simples, que é do conhecimento de todos nós, mas que para que se mantenha viva essa mensagem é necessário dar-lhe outras formas e outros contextos. Quem o sabe fazer é decerto um artista …
E assim descobri que tenho um amigo que é artista …