O que inspirou você a criar obras de arte e se tornar um artista? (eventos, sentimentos, experiências...)
Desde a infância, sinto uma profunda conexão com as forças da natureza — não apenas como espectador, mas como parte de uma troca silenciosa, porém essencial. Para mim, criar é uma forma de habitar plenamente o mundo, de responder a ele com formas, materiais e gestos.
Não foi um evento específico que me atraiu para a arte, mas sim um fio contínuo de sensações, confrontos internos e silêncios significativos. O ato artístico me permite dialogar com o que escapa às palavras — o frágil, o arcaico, o espiritual.
Ser artista não é uma escolha; é uma forma de estar no mundo. Uma necessidade. Uma forma de viver a vida com sinceridade, de abrir espaços onde os sensíveis possam respirar.
Qual é sua formação artística, as técnicas e os temas que você experimentou até hoje?
Desenvolvi-me como autodidata, em estreito diálogo com a natureza, questões ontológicas e a relação entre seres humanos e ciência. Minha jornada artística foi construída fora de estruturas institucionais — por meio da observação, da experiência e de um profundo desejo de compreender o que mantém o mundo em sua intimidade.
Interesso-me por estados de transição, passagens e pelo invisível dentro do visível. Meu trabalho é frequentemente intuitivo e orientado a processos, embora minhas questões filosóficas e experiências espirituais estejam entrelaçadas a ele.
Minhas obras nascem, na maioria das vezes, em um campo de tensão entre a experiência da natureza, o pensamento filosófico e a intuição silenciosa.
Atualmente, questiono concretamente a visão naturalista e mecanicista do mundo, que comparo com uma abordagem mais holística.
Quais são os 3 aspectos que diferenciam você de outros artistas, tornando seu trabalho único?
A conexão com a natureza – não como um motivo, mas como um parceiro ativo. Meu trabalho nasce de uma troca com a paisagem, o silêncio e a transformação.
Uma abordagem filosófica e espiritual – minha prática é informada por questões sobre a essência do mundo, consciência, conexão e percepção interior.
Uma abordagem autodidata – Eu me movo além das estruturas acadêmicas, com uma perspectiva alerta, uma postura aberta e confiança no processo em si.
De onde vem sua inspiração?
Minha inspiração vem do silêncio, da reflexão sobre o mundo e da história da filosofia e da epistemologia — bem como da observação cuidadosa dos processos naturais. Uma força motriz fundamental é um profundo fascínio pelos mistérios e pela complexidade da natureza do mundo e dos seres humanos.
Textos filosóficos, conversas e experiências interiores também permeiam meu trabalho. Muito emerge de um estado de abertura e desconhecimento, onde pensamento, sensação e percepção se encontram.
Qual é a sua abordagem artística? Que visões, sensações ou sentimentos você deseja evocar no espectador?
Meu trabalho é intuitivo, orientado por processos e alimentado por sentimentos pessoais. Entro em diálogo com a natureza, o espaço ou um impulso interior. Não busco impor uma imagem, mas sim abrir um espaço de silêncio, de não-saber, de conexão. O que mais me comove é quando uma obra desperta a consciência nos outros. Acredito que a arte pode inspirar — e, assim, ajudar a transformar o mundo.
Qual é o processo criativo das suas obras? Espontâneo ou com um longo processo preparatório (técnica, inspiração em clássicos da arte ou outros)?
Meu processo muitas vezes começa com um momento de silêncio, quando uma imagem interior surge. Eu a desenho imediatamente, sem ainda compreendê-la. À medida que desenvolvo a composição, faço associações livremente. Mas nunca sigo o esboço à risca — a pintura continua sendo um processo vivo e aberto. Minhas questões ontológicas se integram a ela naturalmente, à medida que o trabalho avança.
Você usa alguma técnica de trabalho específica? Se sim, pode explicá-la?
Atualmente, trabalho muito com painéis de compensado ou uso tábuas velhas, como bases de móveis, e reciclo diferentes materiais para meus suportes. A noção de sustentabilidade e economia circular é particularmente importante para mim.
Em seguida, transfiro meus esboços para esses suportes e aplico diferentes camadas de subcapa colorida. Muitas vezes, também adiciono elementos colados ou esculpo diretamente no suporte, o que às vezes dá origem a verdadeiros relevos.
No entanto, a pintura pura sempre permanece no centro do meu trabalho. Detalhes pintados de forma realista, combinados com elementos surreais e expressivos criados com pinceladas livres, criam mundos místicos.
Há algum aspecto inovador no seu trabalho? Pode nos contar quais são?
Sim, meu trabalho é inovador, principalmente pela combinação de diferentes técnicas e materiais.
Utilizo conscientemente a reciclagem e a sustentabilidade, utilizando tábuas velhas e materiais diversos como suporte, o que traz uma dimensão tátil e ecológica aos meus trabalhos.
O que considero particularmente interessante é a continuidade contemporânea das ideias antigas de Dalí e Picasso, que se inspiraram nas descobertas da física quântica de sua época. Mais de 100 anos depois, retorno a essa abordagem, fascinado pela dimensão filosófica e espiritual dessas ciências, influenciado por pensadores como Hans-Peter Dürr, Fritjof Capra e Andreas Weber.
Você tem um formato ou mídia com o qual se sente mais confortável? Se sim, por quê?
Sim, prefiro trabalhar em painéis de compensado ou tábuas de madeira velhas porque eles trazem um toque especial de calor e textura. Além disso, esse meio me permite adicionar profundidade extra às minhas obras por meio de entalhes ou da adição de elementos colados.
Onde você produz seu trabalho? Em casa, em um estúdio compartilhado ou no seu próprio estúdio? E dentro desse espaço, como você organiza seu trabalho criativo?
Trabalho principalmente no meu próprio estúdio em casa. Este espaço privativo me dá paz, tranquilidade e liberdade para me dedicar totalmente ao processo criativo.
Meu estúdio é organizado de forma que todos os materiais estejam sempre ao alcance — de tintas a ferramentas e diversas mídias. Isso me permite transitar espontaneamente da pintura para a escultura ou colagem, além de manter grande flexibilidade no meu trabalho.
Seu trabalho exige que você viaje para conhecer novos colecionadores, participar de feiras ou exposições? Se sim, o que isso lhe traz?
Durante meus 20 anos de atividade como artista independente, participei de inúmeras exposições na França e no exterior, bem como em feiras de arte.
Como você imagina a evolução do seu trabalho e da sua carreira como artista no futuro?
Imagino-me explorando ainda mais a conexão entre técnicas tradicionais e ideias modernas. Gostaria de integrar materiais sustentáveis e abordagens inovadoras de forma mais ampla.
Minha evolução artística será guiada por um diálogo constante entre natureza, ciência e espiritualidade, o que continuará a nutrir minha inspiração.
A longo prazo, espero que minha arte alcance um público maior e contribua para uma percepção mais consciente do mundo.
Qual é o tema, estilo ou técnica da sua última produção artística?
Meu trabalho mais recente mistura elementos místicos e surreais, combinados com detalhes realistas e pinceladas expressivas.
Eu uso principalmente painéis de madeira compensada como suporte, nos quais aplico camadas de base de cores diferentes, colo elementos e esculpo no suporte, às vezes criando relevos.
O tema aborda a conexão entre natureza, espiritualidade e as forças invisíveis que fluem pelo nosso mundo.
Você pode nos contar sobre sua experiência mais importante em uma exposição?
Este ano, ganhei o terceiro prêmio em um concurso organizado pela Associação Profissional de Artistas Visuais da Áustria sobre o tema da luz. A exposição dos indicados aconteceu no Palácio de Schönbrunn, em Viena. Foi uma grande honra poder expor neste cenário magnífico e receber este prêmio.
Se você pudesse criar uma obra famosa na história da arte, qual escolheria? E por quê?
Eu gostaria de ter criado uma obra de Salvador Dalí, como "A Persistência da Memória".
Sou fascinado pela maneira como Dalí cria mundos surreais que refletem profundas ideias filosóficas e científicas, particularmente a relação entre tempo, espaço e consciência. Essa mistura de sonho e realidade continua a inspirar meu próprio trabalho.
Se você pudesse convidar qualquer artista famoso (vivo ou morto) para jantar, quem seria? Como você sugeriria que ele passasse a noite?
Eu convidaria Hilma af Klint para jantar porque ela estava à frente de seu tempo com sua arte vanguardista e espiritual. Suas obras abstratas estão profundamente conectadas a pensamentos místicos e filosóficos, o que me inspira muito.
Sugiro passar a noite em um ambiente tranquilo e inspirador, discutindo suas visões, seu processo criativo e a conexão entre arte e espiritualidade. Seria fascinante refletirmos juntos sobre o papel da intuição e do invisível na arte.