Pontes: diferenças entre realidade e pintura

Pontes: diferenças entre realidade e pintura

Olimpia Gaia Martinelli | 14 de fev. de 2024 9 minutos lidos 0 comentários
 

O género da paisagem urbana apresenta frequentemente diversas infra-estruturas, entre as quais a ponte, obra-prima da engenharia civil concebida para ultrapassar obstáculos, tanto naturais como artificiais, para garantir uma comunicação contínua, é extremamente popular...

REFLEXÕES DA PONTE DO ARCO-ÍRIS (2021)Pintura de Tatyana Fogarty

Breve introdução

O género da paisagem urbana apresenta frequentemente diversas infra-estruturas, entre as quais a ponte, obra-prima da engenharia civil concebida para ultrapassar obstáculos, tanto naturais como artificiais, para garantir uma comunicação contínua, é extremamente popular. A presença de pontes na arte proporciona-nos muitas vezes duas visões da mesma infra-estrutura: a real e quotidiana que observamos na realidade com os nossos próprios olhos, e a outra apresentada através de diversas interpretações nas pinturas. Torna-se possível comparar fotografias comuns de algumas pontes com pinturas sobre o mesmo tema criadas por artistas conceituados para perceber como cada uma delas transmitiu a sua visão pessoal da estrutura em questão. Prossigamos com exemplos específicos: Canaletto e a Ponte Old Walton, Vincent van Gogh e a Ponte Langlois, André Derain e a Ponte Waterloo, e a Ponte Macomb's Dam de Edward Hopper. O que foi descrito será finalmente complementado, na parte final da narrativa, por pontos de vista contemporâneos sobre o tema oferecidos pelos artistas de Artmajeur. Agora estamos prontos para cruzar todas essas pontes!

Canaletto, ponte velha Walton (1754). Óleo sobre tela. Galeria de Imagens de Dulwich, Galeria de Imagens de Londres, Londres.

Canaletto e a Ponte Velha Walton

Realidade: A Walton Bridge, conhecida como Old Walton Bridge, foi a estrutura inicial construída sobre o rio Tâmisa, conectando Walton-on-Thames e Shepperton em Surrey, Inglaterra. A antiga Walton Bridge tinha quatro pilares centrais de pedra, ligados por três arcos feitos de vigas e treliças de madeira. O arco central tinha um vão espetacular de 39 metros, na época, o maior vão sem apoio da Inglaterra. Os outros dois arcos principais mediam 13 metros cada. A antiga Walton Bridge, erguida entre 1749 e 1750, ainda existe hoje, embora tenha sofrido duas reconstruções, a mais recente das quais ocorreu em 1905.

Pintura: Na pintura de Canaletto datada de 1754, a ponte sofre algumas modificações: parece mais larga e curva do que realmente era. Além disso, a sua representação serve de pretexto para discutir algumas figuras proeminentes da época, pois a pintura imortaliza, entre outras figuras reconhecíveis, o mesmo patrono da obra-prima: Thomas Hollis, que aparece ao lado de outro personagem perto do centro da pintura, localizado perto da margem do rio. Outra peculiaridade da obra é a presença de imponentes nuvens tempestuosas que, pairando sobre a ponte, parecem evidenciar o contraste entre a força da natureza e a obra de engenharia subjacente.

Vincent van Gogh, Ponte Langlois (1888). Óleo sobre tela, 59x74cm. Museu Kröller-Müller, Otterlo.

Vincent van Gogh e a Ponte Langlois

Realidade: Neste caso, a realidade observada com os olhos assemelha-se muito à retratada, pois a Ponte Langlois, que ficou famosa graças à obra homónima de Vincent, foi na verdade recriada a poucos quilómetros do centro de Arles. Tem a mesma forma daquela que existiu em Fos, onde foi originalmente pintada pelo pintor holandês. De facto, a vontade de prestar homenagem ao mestre holandês permitiu recriar uma paisagem semelhante àquela admirada e retratada por Vicente, onde se podia contemplar uma ponte levadiça com vigas, cujo caminho levantado por pivotamento numa das extremidades estava ligado por correntes a uma ou duas seções basculantes.

Pintura: A referida ponte foi tema investigado diversas vezes pelo mestre holandês, que a retratou em diversas versões durante a primavera de 1888. Numa delas, atravessa o canal no centro da imagem, exibindo seus dois maciços encontros e seu passadiço de madeira sustentado por vigas, enquanto acima, passarelas são ancoradas em dois andaimes. Deslocando a atenção para o curso de água, na sua margem direita cresce uma erva exuberante, enquanto a margem esquerda parece bastante seca, embora enriquecida pela presença de algumas mulheres a lavar roupa na margem. Por fim, vale destacar que a interpretação figurativa da ponte em questão, bastante luminosa e de estilo pós-impressionista, também foi criada com referência aos estilos de gravuras japonesas, das quais Vincent era um ávido colecionador.

Ponte Waterloo, Rio Tâmisa, Londres, Inglaterra.

André Derain e a Ponte Waterloo

Realidade: A Ponte Waterloo é uma estrutura rodoviária que permite a passagem de veículos e pedestres, atravessando o Rio Tâmisa, no centro de Londres, entre a Ponte Blackfriars e a Ponte Hungerford. Hoje é visível a segunda versão da ponte, embora na época de Derain fosse aquela projetada por John Rennie entre 1807 e 1810 e inaugurada em 1817 que existia. Este último era de granito, tinha nove arcos separados por colunas duplas de pedra dórica e tinha um comprimento total de 748,6 metros. A partir de 1884, constataram-se problemas significativos nos pilares desta ponte, causados pela erosão do caudal do rio, que danificou os seus alicerces. Nos anos seguintes, os problemas aumentaram a tal ponto que, na década de 1930, o Conselho do Condado de Londres decidiu demolir a infraestrutura e substituí-la por uma nova projetada por Sir Giles Gilbert Scott.

Pintura: A Ponte Waterloo faz parte da série de pinturas criadas por Derain durante sua estada em Londres em nome do negociante de arte Ambroise Vollard, durante as quais o pintor ofereceu uma interpretação fauvista das margens do Tâmisa. Nesta obra-prima de 1906, o elemento visual central é a Ponte Waterloo vista do Victoria Embankment, uma perspectiva que foi reproduzida usando uma técnica pontilhista para realçar cores puras. Essas cores, capazes de criar um efeito de “mosaico sobre tela”, triunfam em tons vibrantes de azul, além de verde, rosa e amarelo. Curiosidade: A referida ponte também foi retratada pelo pintor impressionista francês Claude Monet em sua série de 41 obras criadas entre 1900 e 1904, bem como pelo artista romântico inglês John Constable, cuja pintura retratando sua inauguração está exposta na Abadia de Anglesey, em Cambridgeshire. .

Edward Hopper, Ponte Dam de Macomb (1935). Museu do Brooklyn, Nova York.

Ponte Dam de Macomb e Edward Hopper

Realidade: A Macombs Dam Bridge é uma ponte giratória que atravessa o rio Harlem, na cidade de Nova York, conectando os bairros de Manhattan e do Bronx. A primeira ponte neste local, construída em 1814 como barragem, foi desmontada em 1858. Três anos depois, foi substituída por uma ponte giratória de madeira conhecida como Ponte Central, embora a atual estrutura de aço da Ponte da Barragem de Macombs tenha sido construída entre 1892 e 1895, e o viaduto da 155th Street entre 1890 e 1893. Ambas as estruturas foram projetadas por Alfred Pancoast Boller e aparecem fielmente na interpretação realista de Hopper do século XX.

Pintura: "Macomb's Dam Bridge" é uma pintura a óleo do mestre americano criada em 1935, com o objetivo de retratar fielmente a Macombs Dam Bridge, em Nova York, apresentando-a dentro de um cenário calmo e deserto, bastante incomum para o trânsito movimentado habitual no ponte.

MEMÓRIAS DE MANHATTAN (1999)Pintura de Joseph Michetti

Pontes e Pinturas Contemporâneas

MEMÓRIAS DE MANHATTAN por Joseph Michetti

Realidade: A Ponte de Manhattan é uma estrutura concluída em 1912 que atravessa o East River na cidade de Nova York, conectando Lower Manhattan na Canal Street com Downtown Brooklyn na Flatbush Avenue Extension. Hoje, assim como na sua inauguração em 1909, a Ponte de Manhattan possui um vão central de 1.470 pés, bem como dois vãos laterais suspensos no ar, cada um medindo 725 pés, todos sustentados por quatro cabos principais, cada um composto por mais de 35.000 fios individuais. .

Pintura: O realismo de Michetti oferece-nos uma reprodução fiel da referida ponte, bem como do icónico bairro de Manhattan que se forma ao fundo, reconhecível também pela presença de elementos arquitectónicos que infelizmente já não existem: as Torres Gémeas. Na verdade, como indica o próprio artista, a obra é fiel à época em que foi concebida e criada, nomeadamente, o longínquo ano de 1999. No entanto, o profundo interesse pelo tema e pela cidade em questão torna-se explicitamente claro quando consideramos leia sobre o artista Artmajeur. Michetti é, aliás, um pintor americano formado na School of Industrial Arts de Manhattan, cuja obra apresenta frequentemente uma predisposição para temas nostálgicos, descritos em plena conformidade com a linguagem do realismo contemporâneo. Esses elementos estilísticos são conseguidos através de uma técnica extremamente precisa, que visa manter o artista focado no mesmo assunto por vários meses consecutivos.

LONDRES. PONTE DA TORRE. CIDADE. (2021)Pintura de Vita Schagen

LONDRES. PONTE DA TORRE. CIDADE. por Vita Schagen

Realidade: A Tower Bridge, símbolo icónico de Londres construída entre 1886 e 1894, tem um comprimento total de 240 metros e é composta por duas imponentes torres com 65 metros de altura, ligadas por duas passarelas horizontais de nível superior. Além disso, possui um par central de básculas que podem ser abertas para permitir a passagem do tráfego marítimo. Com estas características, continua a ser uma via essencial, facilitando cerca de 40.000 travessias por dia, de livre acesso tanto a veículos como a peões.

Pintura: O estilo impressionista molda uma representação de 2021 da referida ponte, que, em termos de representação, traz à mente temas semelhantes interpretados por Monet, Caillebotte, Pissarro e Renoir. Quanto ao brilho apresentado na obra de Schagen, assemelha-se mais ao de "A Ponte de Chatou" (1875), obra-prima deste último mestre francês. Porém, enquanto os azuis e amarelos de Renoir triunfam com ousadia, o artista Artmajeur prefere cores mais suaves, aludindo a uma luminosidade branca que ganha vida em alguns detalhes alaranjados e celestiais da infraestrutura. Por último, Vita Schagen é uma artista holandesa cujo processo criativo começa principalmente com ideias que depois são traduzidas em tela. A própria Schagen reconhece os resultados desta abordagem figurativa, que se inclina claramente para o Impressionismo, interpretada através de uma técnica que, em algumas ocasiões, visa criar ricas camadas de tinta em relevo.

LE PONT DES SOUPIRS (2023)Desenho de Ananou

A PONTE DOS SUSPIROS de Ananou

Realidade: A Ponte Veneziana dos Suspiros, construída no século XVII com pedra da Ístria em estilo barroco, aderiu ao gosto do seu comissário, o Doge Marino Grimani, cujo brasão está esculpido na própria estrutura. Localizada não muito longe da Praça de São Marcos, a ponte atravessa o Rio di Palazzo, ligando o Palácio Ducal às Novas Prisões através de uma passagem dupla concebida como rota para os prisioneiros que tiveram que se deslocar das prisões para os escritórios dos Inquisidores do Estado para suas provações. Diz-se que o nome da ponte deriva dos suspiros dos condenados que a atravessavam, pensando tragicamente que estavam vendo o mundo exterior pela última vez.

Pintura: Hoje, os suspiros ficam apenas pela beleza da ponte em questão, fielmente captada em tons de azul e branco pelo artista francês Ananou, que procurou homenagear a cidade de Veneza reproduzindo de forma realista um dos seus marcos mais emblemáticos. Quanto ao artista Artmajeur, Ananou geralmente cria desenhos meticulosos, que visam destacar o domínio composicional, alcançado principalmente através do uso da técnica da caneta sobre papel. Este modo expressivo explora a figura humana, bem como animais, naturezas mortas, arquitetura e, ocasionalmente, até formas abstratas. Tudo isso ressalta a versatilidade do artista e seu desejo de evoluir continuamente para dar voz aos mais diversos aspectos da realidade, expressos principalmente em tons de azul e branco.

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