Conto de fardos (2020) Pintura por Jeffrey Kolenyak

Fugindo da bolha urbana, onde os avanços civilizatórios nos atingem nas mesmas
proporções em que surgem novos problemas modernos. Indo diretamente às terras
onde nossos consumos de sobrevivências são produzidos. No lugar em que temos
poucos vestigios da sujeira, e do caos que o asfalto e o concreto nos proporciona.
Terra em que o verde, a fauna e as vastas terras serviriam à qualquer um como o
paraíso, e o escape da ansiosa cidade, livre de preocupações. Utópicas terras do
levante do povo, e dos filhos da revolução. Ou ao menos assim deveria ser, pois
como em qualquer metro quadrado brasileiro que nasceu da usurpação, alguns
problemas insistem em se manter. Numa realidade que mais se parece tirada das
páginas de um livro de história, longe aos olhos de uma sociedade que só consegue
enxergar prédios, banners e celulares. A primeira morada da miséria, onde ela ainda
reside e resiste, financiadas por quem tira vantagem da dor. No flagelo daqueles que
não enxergam uma luz no fim do túnel, e são obrigados a abdicar da própria liberdade
em prol da sobrevivência. Gastam seus corpos, entre esforços de uma musculatura
que não foi desenvolvida para tal. Onde os meios e os fins se embolam para quem
teve a infelicidade de nascer em meio à uma emboscada do capital e teus donos, que
dados em seus luxos e pecados, dormem confortáveis à noite, mesmo sobrepondo
a econômia ante a dignidade humana.