Adicionado dia 18 de fev. de 2025
Desde cedo, a minha relação com a imagem e a memória revelou-se como uma necessidade visceral de compreender o mundo e, sobretudo, de me compreender a mim mesmo. Cresci num contexto onde as palavras, por vezes, não eram suficientes para explicar as ausências, as perdas e as mudanças abruptas da vida. Foi na fotografia que encontrei a minha voz e a minha forma de reconstruir as peças do que parecia estar fragmentado.O primeiro contacto com uma câmara não foi apenas um encontro com um objeto técnico, mas sim uma descoberta de uma extensão do meu olhar e da minha alma. Comecei por registar os pequenos detalhes do quotidiano: a luz que atravessa a janela pela manhã, o sorriso tímido de um desconhecido, o desgaste das paredes de um edifício antigo. Cada imagem captada tornava-se uma prova tangível da minha existência e da minha interpretação do mundo.Com o passar do tempo, fui percebendo que a fotografia ia além do estético ou do documental. Ela permitia-me resgatar histórias, dar visibilidade ao que, muitas vezes, era ignorado ou esquecido. Esse desejo de contar histórias e de dar voz ao invisível foi o que me levou a criar o projeto Le Chemin des Chemises.Este projeto nasceu de uma reflexão profunda sobre o percurso humano e as marcas que deixamos no caminho. A metáfora das camisas simboliza as nossas camadas, as identidades que vestimos e despimos ao longo da vida. Cada camisa, muitas vezes esquecida ou descartada, carrega consigo histórias de trabalho, de encontros, de suor e de sonhos. Ao fotografá-las em diferentes cenários, não só presto homenagem a essas vidas anónimas, como também questiono a efemeridade das relações humanas e a transitoriedade da nossa passagem pelo mundo.Le Chemin des Chemises é, acima de tudo, uma caminhada pela memória e pela identidade. É um convite a olharmos com mais atenção para o que deixamos para trás e para o que queremos construir adiante. Assim como a fotografia me deu sentido e propósito, espero que este projeto possa despertar em outros a vontade de resgatar as suas próprias histórias e de valorizar a beleza dos percursos, por mais simples que pareçam ser.