Minha primeira formação foi aos sete anos de idade, numa escolinha de arte na Praia de Icaraí, Niterói. Eu era um bom retratista, dom que perdi ao longo da vida. Minha mãe me matriculou nessa escolinha, numa praia que, na época, não ostentava nenhum edifício, era composta apenas de casas. Mas, uma vida atribulada, em que mudei várias vezes de país (Brasil, Chile, México, Bélgica, França, Alemanha, Suécia, Dinamarca, Argentina e Uruguai), serviu para tirar de mim qualquer influência, não sei que estilo tenho. Prefiro não ter estilo. Visitei mais galerias e museus em Estocolmo, Gotemburgo e Copenhague do que em Paris, e preferia ver escultores, não pintores. Porque, no fundo de minha alma, acho "Las Meninas", de Velázquez, a obra máxima da pintura ocidental. Depois dela, tudo é perfunctório. Superar Las Meninas é tão impossível quanto pintar sobre água. Pinto cenas de bar e restaurante, sempre com um toque de non-sense - mulheres sevidas em bandeja, tigre com prato principal, telefone celular com legumes. Uso fotos como modelos. Como vivi durante muitos anos como outsider, gosto de pintar interação entre pessoas numa mesa com copos e pratos. Tive uma fase de pintura abstrata, mas há anos não me atrevo nela, já que é muitíssimo difícil encontrar o equilíbrio perfeito na abstração. Discordo de Picasso que disse "os temas são poucos, a Virgem Maria, o Menino Jesus, etc." Logo ele que pintou Guernica. Enquanto houver humanidade, haverá temas. Como as relações sociais mudam, mudam os temas que são infinitos. Há 50 anos, o mundo era rural, hoje está totalmente urbanizado. E entramos na Idade Mídia e Era digital. É um outro mundo com todo um universo de possibilidades de representação figurativa. Só pinto com tinta acrílica, hoje mais sobre tela, no passado usei madeira algumas vezes. Em algumas telas usei colagens de fotos e de objetos.