Robert Doisneau

Robert Doisneau

Nicolas Sarazin | 5 de jul. de 2023 9 minutos lidos 0 comentários
 

Robert Doisneau, emblemático fotógrafo francês do século XX, captou com ternura e poesia as cenas do quotidiano através das suas famosas fotografias a preto e branco, tornando-se um dos artistas mais influentes da fotografia humanista.

Robert Doisneau, crédito: Bracha L. Ettinger via wikipedia

Robert Doisneau foi um fotógrafo francês nascido em 14 de abril de 1912 em Gentilly, França, e falecido em 1 de abril de 1994 em Montrouge. Ele é conhecido por suas fotografias da vida cotidiana em Paris e por sua capacidade de capturar momentos espontâneos e autênticos.

Ele começou sua carreira trabalhando como fotógrafo industrial, mas rapidamente desenvolveu um interesse pela fotografia de rua. Suas imagens costumam refletir um olhar terno e bem-humorado sobre a vida urbana, destacando pequenas cenas do cotidiano que muitas vezes passam despercebidas.

Um fotógrafo humanista

Robert Doisneau foi um dos membros eminentes da fotografia humanista na França. Esse movimento artístico, que surgiu após a Segunda Guerra Mundial, focava em capturar emoções e experiências humanas na fotografia.

Ao lado de outros grandes fotógrafos como Henri Cartier-Bresson, Willy Ronis e Brassai, Doisneau ajudou a moldar o estilo e os ideais da fotografia humanista. Todos eles buscaram documentar a realidade da vida cotidiana, especialmente nas ruas de Paris, e revelar a beleza e a dignidade das pessoas comuns.

A fotografia humanista se distinguiu por sua abordagem espontânea e não-posta. Os fotógrafos desse movimento buscavam capturar momentos autênticos, muitas vezes fugazes, que refletiam a condição humana e as interações entre as pessoas e seu ambiente.

Para Doisneau, a fotografia era uma forma de testemunhar a vida como ela é, com suas alegrias, suas tristezas e seus momentos de graça. Ele acreditava na capacidade da imagem fotográfica de contar histórias e transmitir emoções.

O começo

Ele estudou artes gráficas na École Estienne e obteve seu diploma de gravador e litógrafo em 1929.

Em outubro de 1929, ingressou no estúdio de Léon Ullmann como designer de letras. Foi lá que conheceu Lucien Chauffard, chefe do estúdio fotográfico do estúdio. Este último o apresentou à fotografia e o encaminhou para André Vigneau, que procurava um assistente no outono de 1931. Foi com Vigneau que Doisneau descobriu a Nova Objetividade Fotográfica. No mesmo ano, conheceu Pierrette Chaude-maison, com quem se casou três anos depois.

Em 1932, vendeu sua primeira reportagem fotográfica, publicada na Excelsior.

Em 1934, Lucien Chauffard o apresentou ao chefe do departamento fotográfico da montadora Renault em Boulogne-Billancourt, que o contratou como fotógrafo industrial. No entanto, devido a repetidos atrasos e depois de tentar manipular seus scorecards, ele foi demitido cinco anos depois, em 1939.

Graças a Lucien Chauffard, Doisneau conheceu o fotógrafo Ergy Landau pouco antes do início da Segunda Guerra Mundial. Ela o apresentou a Charles Rado, fundador da agência Rapho. Seu primeiro relatório, dedicado à canoagem na Dordonha, foi interrompido pela declaração de guerra e pela mobilização geral.

Desempregado agora, Doisneau está tentando se tornar um fotógrafo e ilustrador freelancer. Ele se tornou um dos colaboradores mais prolíficos da revista artística e literária Le Point, fundada em 1936 por Pierre Betz e o editor de arte Pierre Braun. Foi para esta revista que fez os primeiros retratos de Picasso, Braque e Paul Léautaud.

Os anos do pós-guerra


Após a Segunda Guerra Mundial, Robert Doisneau tornou-se fotógrafo freelancer ao ingressar oficialmente na agência Rapho em 1946.

Ele então embarcou na produção e produção de inúmeras reportagens fotográficas sobre vários assuntos, como notícias parisienses, Paris popular, assuntos regionais e internacionais (URSS, Estados Unidos, Iugoslávia, etc.). Algumas de suas reportagens serão publicadas em revistas como Life, Paris Match, Réalités, Point de vue, Regards, etc.

Em 1947, Robert Doisneau se juntou ao Groupe des XV ao lado de René-Jacques, Willy Ronis e Pierre Jahan. No mesmo ano, conheceu Robert Giraud no antiquário Romi, marcando o início de uma longa amizade e uma frutífera colaboração. Doisneau publicará cerca de trinta álbuns, entre eles "La Banlieue de Paris" (Seghers, 1949) com textos de Blaise Cendrars. Em 1949, produziu notadamente uma encenação da cruz do Evangelho de Paris com a atriz Nicole Courcel.

De 1948 a 1953, trabalhou como colaborador permanente da Vogue. Ele também é amigo de Jacques Yonnet, e suas fotografias ilustram a famosa obra "Enchantements sur Paris" (Denoël, 1954), que se tornou "La Ville des maléfices" (Biblio).

O fotógrafo faz muitas escapadas em Limousin. Sua infância em Corrèze, assim como suas estadias em Saint-Céré in the Lot, dos anos 1930 a 1991, alimentaram sua inspiração.

Em 1992, Doisneau apresentou uma retrospectiva de suas obras na Modern Art Oxford, que seria sua última exposição em vida. Em 1994, o festival Rencontres d'Arles homenageou-o com uma exposição especial.

Robert Doisneau dedicou-se principalmente a Paris, seus subúrbios e seus habitantes, capturando cada momento de suas vidas: artesãos, bistrôs, vagabundos, meninos de rua, artistas de rua e muitos outros. Os amantes ocupam um lugar especial na sua obra, nomeadamente com a célebre fotografia "Amantes com laranjas, rue Mazarine". Por quase meio século, ele registrou milhares de retratos dos pequenos de Paris.

Sua esposa Pierrette morreu em 1993, sofrendo de Parkinson e Alzheimer.

Robert Doisneau morreu seis meses depois, aos 81 anos, em 1º de abril de 1994, em Montrouge. Ele descansa em Raizeux, perto de Rambouillet, ao lado de sua esposa.


As principais obras de Doisneau

  • "Le Baiser de l'Hôtel de Ville" (1950): Esta fotografia icônica mostra um casal se beijando apaixonadamente no meio de uma multidão em Paris. Simboliza o amor e o romance em um ambiente urbano.

  • "Le Tugeur du Champ de Mars" (1943): Esta fotografia mostra um menino olhando fascinado para um rebocador no Champ de Mars em Paris. Ela captura a maravilha e a inocência da infância.

  • "Les Amoureux de la rue de Rivoli" (1950): Esta imagem representa um casal caminhando de mãos dadas, com uma multidão de transeuntes ao seu redor. Ele incorpora ternura e intimidade no coração da vida urbana.

  • "O Pombo" (1957): Esta fotografia retrata um homem, vestido com um elegante terno, com um pombo pousado em sua mão. Ela capta o equilíbrio entre a natureza e o homem, assim como uma certa poesia da vida cotidiana.

  • "As Crianças do Mundo" (1952): Esta série de fotografias destaca crianças de diferentes países, mostrando sua inocência e sua diversidade cultural.

  • "O Pianista do Sena" (1953): Esta fotografia mostra um homem tocando piano nas margens do Sena, com transeuntes parando para ouvi-lo. Representa paixão e expressão artística no espaço público.

  • "Le Joueur de flûte" (1949): Esta imagem captura um músico tocando flauta em uma rua de Paris, com crianças ao seu redor. Ela transmite a magia e a maravilha da música.

  • "O Beijo no Hôtel de Ville" (1953): Esta fotografia mostra um casal se beijando em frente ao Hôtel de Ville em Paris, mas desta vez com efeito de espelho. Ele oferece uma nova perspectiva sobre uma das imagens mais icônicas de Doisneau.

As influências de Doisneau

  • Cultura: as fotografias de Doisneau, notadamente "Le Baiser de l'Hôtel de Ville", tornaram-se ícones da cultura popular. Eles foram reproduzidos em cartazes, cartões postais e outras mídias e são frequentemente associados à imagem romântica de Paris. Essas imagens também inspiraram canções, poemas e obras literárias que evocam o charme e o romantismo da capital francesa.
  • Publicidade: Os anunciantes usaram as fotografias de Doisneau para promover uma variedade de produtos. Por exemplo, a famosa fotografia "Le Baiser de l'Hôtel de Ville" tem sido usada em anúncios de marcas de perfumes, joias e roupas, para evocar amor, paixão e elegância. Essas referências visuais à obra de Doisneau acrescentaram uma dimensão romântica e atemporal às campanhas publicitárias.
  • Televisão e cinema: diretores de cinema e criadores de séries de televisão usaram a estética de Doisneau para recriar a atmosfera do pós-guerra e o charme de Paris. Por exemplo, no filme "Amélie Poulain" de Jean-Pierre Jeunet, a obra de Doisneau serviu de fonte de inspiração para criar uma atmosfera nostálgica e poética. Imagens de Paris capturadas por Doisneau também foram usadas em documentários e programas de TV para ilustrar a história e o patrimônio da cidade.
  • Design e moda: a estética atemporal de Doisneau inspirou estilistas e criadores em suas coleções. Suas fotografias influenciaram a criação de roupas retrô, padrões inspirados na atmosfera dos anos 1950 e decorações em estilo parisiense. Seu senso de estilo e retrato elegante da vida na cidade foram adaptados em desfiles de moda e encenações visuais para criar uma atmosfera nostálgica e contemporânea.

Citações de Robert Doisneau

  • "Gostei muito de fotografar pessoas, vê-las em seu elemento, em seu trabalho, em sua vida cotidiana. É aí que você pode realmente capturar sua verdade."

  • "O importante é encontrar um assunto que te toque, que fale com você. É aí que a mágica acontece."

  • "A fotografia é um fragmento de tempo que nunca mais voltará."

  • "A verdade é que não procuro a perfeição na minha fotografia. Procuro simplesmente captar a emoção e a autenticidade."

  • "A fotografia é uma forma de falar sem falar, de contar histórias sem palavras."

  • "O segredo da fotografia é aproveitar o momento presente, capturar a emoção que escapa, congelar o efêmero."

  • "Sou uma testemunha da vida cotidiana, um observador das pequenas cenas que compõem o grande quadro da existência."

  • "Fotografar é colocar a cabeça, o olho e o coração na mesma linha de visão."

  • "Fotografias são memórias congeladas no tempo, pedaços de história que contam a nossa humanidade."

  • "A fotografia é uma forma de dizer 'sim' à vida, de celebrar a beleza e a poesia que se escondem nos momentos mais simples."

10 coisas incongruentes para saber sobre Robert Doisneau

  1. Doisneau começou sua carreira como fotógrafo de estúdio especializado em fotografia publicitária e industrial antes de se dedicar à fotografia de rua.

  2. Ao contrário de certas ideias recebidas, a famosa fotografia "Le Baiser de l'Hôtel de Ville" foi encenada por Doisneau com atores e não um verdadeiro casal de namorados.

  3. Doisneau era apaixonado por motocicletas e possuía uma Harley-Davidson, que inspirou algumas de suas fotografias com tema de motocicleta.

  4. Ele foi um membro ativo da Resistência Francesa durante a Segunda Guerra Mundial e usou suas habilidades como fotógrafo para documentar atividades clandestinas.

  5. Doisneau era um grande amante da música jazz. Ele gostava de ouvir jazz enquanto trabalhava em seu estúdio e alguns de seus retratos de músicos de jazz se tornaram icônicos.

  6. Além da fotografia, Doisneau também era apaixonado por gravura e litografia, e formou-se como gravador e litógrafo.

  7. Ele era conhecido por seu senso de humor e gostava de pregar peças. Ele às vezes se divertia fazendo brincadeiras durante as sessões de fotos para aliviar o clima.

  8. Embora famoso por suas fotografias em preto e branco, Doisneau também experimentou a cor em uma época em que a fotografia colorida ainda estava surgindo.

  9. Apesar da fama, Doisneau era um homem modesto e preferia ficar em segundo plano, evitando as chamas da fama e se concentrando no trabalho.

  10. Após sua morte, milhares de negativos nunca antes vistos foram descobertos em seu estúdio, revelando a extensão de seu trabalho e exploração artística além de suas fotografias mais famosas.

As principais exposições de Robert Doisneau

  • Exposição no Museu de Arte Contemporânea de Chicago (1954): Doisneau montou uma exposição individual de suas fotografias no prestigiado Museu de Arte Contemporânea de Chicago. Isso permitiu que seu trabalho fosse amplamente reconhecido e apreciado nos Estados Unidos.

  • Convidado de honra no Rencontres d'Arles (1975): Em 1975, Doisneau foi o convidado de honra no famoso festival Rencontres d'Arles na França. Ali foi apresentada uma exposição retrospetiva da sua obra, destacando as suas fotografias mais emblemáticas.

  • Exposição na Modern Art Oxford (1992): Doisneau apresentou uma retrospectiva de suas obras na Modern Art Oxford, na Inglaterra. Esta exposição ofereceu ao público britânico a oportunidade de descobrir a extensão do seu talento e da sua obra.

  • Exposição no Museu de Fotografia de Charleroi (1993): O Museu de Fotografia de Charleroi, na Bélgica, dedicou uma exposição a Robert Doisneau, destacando sua influência e sua contribuição para a história da fotografia.

  • Exposição no Musée d'Art Moderne de la Ville de Paris (2000): Uma grande retrospectiva foi organizada no Musée d'Art Moderne de la Ville de Paris, oferecendo uma visão abrangente da carreira de Doisneau e seu impacto na fotografia.

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