O que o inspirou a criar obras de arte e se tornar um artista? (eventos, sentimentos, experiências...)
Acredito que a necessidade de criar e expressar uma visão ou um sentimento através da arte começa com uma necessidade visceral no alvorecer da encarnação, uma dádiva desde o nascimento. O resto envolve pesquisa, estudo, exploração e aplicação, de forma a articular narrativas, guias necessários ao observador.
Ao longo da minha adolescência encontrei refúgio no desenho, ao mesmo tempo que criava uma janela para um mundo de sonhos, de possibilidades, de liberdade. As lutas internas que vivenciamos durante a adolescência geram uma criatividade intensa, às vezes chocante, e é importante captar sua essência. Infelizmente a sociedade atual obriga as almas puras a se diminuirem, vendo a arte acima de tudo como um negócio onde apenas um punhado de indivíduos controla a narrativa, acho isso muito triste.
Estes últimos anos foram decisivos para mim, para me dedicar inteiramente à pintura, a pandemia foi a oportunidade. Atualmente atravessamos um período perigosamente transformador e penso que é essencial preservar a nossa humanidade, para evoluirmos para um estágio superior de consciência, para além da máquina, que vejo como a armadilha da mente.
Qual a sua formação artística, as técnicas e os temas que experimentou até hoje?
Tendo abandonado a escola muito jovem, enveredei pelos tortuosos caminhos da vida para enfrentar as oportunidades e os obstáculos encontrados. Não venho de uma formação privilegiada ou artística, mas tenho muito orgulho da minha família que me deu uma base sólida, permitindo-me hoje andar com as minhas próprias pernas.
Tive a oportunidade, ao longo da minha jornada, de conhecer pessoas que me levaram a experiências muito criativas e humanamente ricas.
Nunca tendo sido muito materialista, consegui acumular uma infinidade de episódios enriquecendo a mente e o coração. Ao longo dos seus mais de 40 anos de vida adulta, abordei tudo de forma autodidata.
Através da tenacidade e da curiosidade aprendi a dominar diversas habilidades. Por isso, nunca fui condicionado por um currículo educacional, sempre direcionei minhas pesquisas e estudos com liberdade.
Experimentei diversas técnicas da arte abstrata do século XX, desde gestos até improvisação.
Desde 2021 meu trabalho tem como foco a geometria abstrata, composta por áreas planas de cores contrastantes e executada com técnica hard-edge.
Atualmente estou desenvolvendo novos trabalhos que combinarão diversas técnicas e efeitos de representação, bem como em diversos suportes.
Quais são os 3 aspectos que te diferenciam dos demais artistas, tornando seu trabalho único?
Geralmente não sigo tendências, procuro primeiro expressar de forma honesta, a singularidade naquilo que quero compartilhar.
De onde vem sua inspiração?
Parte da minha inspiração surge de sentimentos de frustração, de injustiça, transcendidos pelo ato de criar uma obra pictórica, para realizar a alquimia do preto em direção à luz.
Também me inspiro na história esquecida e oculta...a filosofia, a espiritualidade, a história humana através dos tempos, a questão das origens, a universalidade da geometria que vai do microcosmo ao macrocosmo.
Qual é a sua abordagem artística? Que visões, sensações ou sentimentos você deseja evocar no espectador?
Desejo desencadear no observador questões que evoquem a beleza, a pureza, a autenticidade, a simplicidade, a espiritualidade, a impermanência, o lugar do ser humano no universo...
Qual é o processo de criação de suas obras? Espontâneo ou com longo processo preparatório (técnica, inspiração em clássicos da arte ou outro)?
Sempre tenho um caderno comigo para fazer anotações ou esboçar um pensamento, uma ideia, uma visão.
De volta ao ateliê desenvolvo um esboço, uma série de esboços para definir as formas, a paleta de cores, a coerência na composição.
Muitas vezes me deixo guiar pela intuição para me surpreender e perceber essa força interior que não pode ser aprendida, mas pode ser domesticada e liberada.
Você usa uma técnica de trabalho específica? se sim, você pode explicar?
Estou em processo de experimentação de novos métodos, mas geralmente o que é mais importante para mim é a disciplina do ritual, para ter acesso a descobertas, evoluções e revelações.
Há algum aspecto inovador em seu trabalho? Você pode nos dizer quais?
O que posso dizer sobre isto é que sou inovador na medida da minha singularidade, através da expressão de uma consciência universal.
Você tem um formato ou meio com o qual se sente mais confortável? se sim, por quê?
Sinto-me confortável no formato médio, mas estou preparando trabalhos que serão apresentados em formatos XL com diversos suportes.
Onde você produz seus trabalhos? Em casa, num workshop partilhado ou no seu próprio workshop? E nesse espaço, como você organiza o seu trabalho criativo?
Atualmente produzo meus trabalhos em meu ateliê, em minha casa, cercado pela natureza.
O seu trabalho leva você a viajar para conhecer novos colecionadores, para feiras ou exposições? Se sim, o que isso significa para você?
Até agora, os meus encontros presenciais ligados à minha arte decorreram em Londres entre 2021 e 2022. Tendo regressado recentemente a França, estou em processo de ligação para apresentar o meu trabalho em França e não só, nos próximos meses…
Como você imagina a evolução do seu trabalho e da sua carreira como artista no futuro?
Dado o meu calendário biológico, pretendo criar o maior número possível de obras físicas. Quero aprofundar meus conhecimentos sobre preservação e sustentabilidade.
Perco o mínimo de tempo possível com o digital porque ele pode desaparecer repentinamente.
Qual é o tema, estilo ou técnica da sua produção artística mais recente?
As minhas produções mais recentes foram fortemente influenciadas pela pandemia, pela precariedade das nossas liberdades e direitos, especialmente nas áreas urbanas. Traduzido em minhas composições urbanas, bem como em retratos abstratos, representando, apesar das máscaras, nossa capacidade de transcender limitações impostas e de sonhar com novas realidades. A última série é mais minimalista, refletindo a minha vida hoje, longe do caos urbano, na natureza, ouvindo o que é importante e vital.
Se você pudesse convidar qualquer artista famoso (vivo ou morto) para jantar, quem seria? Como você sugeriria que ele passasse a noite?
São vários, mas desta vez convidaria René Magritte, para uma discussão sobre outras dimensões, mundos paralelos, a importância dos símbolos numa obra...