Tetiana Cherevan: O desenho está comigo desde a infância

Tetiana Cherevan: O desenho está comigo desde a infância

Olimpia Gaia Martinelli | 8 de jun. de 2025 11 minutos lidos 0 comentários
 

O desenho me acompanha desde a infância — está no meu sangue. Nossa casa era cheia de livros de história da arte, e eu podia passar horas folheando-os, estudando cada detalhe e absorvendo sua atmosfera. Mesmo antes dos 18 anos, eu já sabia que queria me tornar artista. Frequentei um ateliê que preparava alunos para o ingresso em universidades de arte. Mais tarde, me inscrevi na Academia de Artes de Kiev...

O que inspirou você a criar arte e se tornar um artista? (eventos, sentimentos, experiências...)

O desenho me acompanha desde a infância — está no meu sangue. Nossa casa era cheia de livros de história da arte, e eu podia passar horas folheando-os, estudando cada detalhe e absorvendo sua atmosfera. Mesmo antes dos 18 anos, eu já sabia que queria me tornar artista. Frequentei um estúdio que preparava alunos para o ingresso em universidades de arte. Mais tarde, me inscrevi na Academia de Artes de Kiev.

Qual é sua formação artística, as técnicas e os temas que você experimentou até agora?

Tenho formação em arte clássica, adquirida em diversas instituições na Ucrânia. Meu caminho começou com desenho e pintura acadêmicos e, gradualmente, evoluiu para uma arte contemporânea mais expressiva. Com o passar dos anos, comecei a experimentar mais — tanto com materiais quanto com temas. Trabalho com acrílico, óleo, grafismo, folha de ouro, técnicas mistas e, às vezes, incorporo caligrafia. Minha arte se concentra na figura feminina, na sensualidade, na personificação e na liberdade interior. Também exploro temas como shibari, experiência física, ornamentação e simbolismo. Minhas obras são sempre um diálogo entre forma, emoção e significado.

Quais são os 3 aspectos que diferenciam você de outros artistas, tornando seu trabalho único?

Sensualidade e o corpo feminino – Meus trabalhos frequentemente exploram a forma feminina como uma fonte de poder, desejo e mitologia, evitando a vulgaridade e mantendo uma profunda tensão emocional.

Linhas improvisadas – Eu desenho quase como se estivesse dançando: intuitivamente, permitindo que as linhas surjam através do movimento, sem esboços prévios, o que cria uma energia crua e pessoal.

Uma fusão de modernidade e simbolismo – uso imagens, ornamentos e motivos antigos, reinterpretando-os em um contexto contemporâneo para criar novos mitos.


De onde vem sua inspiração?

Tudo o que acontece ao meu redor influencia os temas do meu trabalho. As pessoas interessantes que conheço frequentemente se tornam parte da minha arte. Inspiro-me em pessoas livres, abertas e honestas — vejo sua presença através das linhas, sinto sua energia e seu olhar, e traduzo isso para a tela. Também adoro estudar as obras de grandes mestres como Gustav Klimt, Rafael e William Morris — a influência deles pode ser vista em minhas criações.

Qual é a sua abordagem artística? Que visões, sensações ou sentimentos você deseja evocar no espectador?

Minha abordagem é intuitiva, emocional e profundamente conectada ao corpo. Muitas vezes trabalho sem esboços, permitindo que a forma e a linha emerjam durante o processo. Quero que o espectador sinta a presença do corpo — o toque, a tensão ou a ternura. Minha arte fala uma linguagem além das palavras, através da energia de um olhar, de uma pose, de uma linha. Meu objetivo é criar um espaço onde o espectador possa encontrar seus próprios desejos, sonhos, vergonha ou sensação de liberdade.

Qual é o processo de criação das suas obras? Espontâneo ou com um longo processo preparatório (técnico, inspiração em clássicos da arte ou outros)?

Muitas vezes, a ideia nasce durante o próprio processo — por meio da ação, da interação com as pessoas, de um olhar, da maneira como a luz toca o corpo ou das curvas de uma figura. Trabalho com modelos vivos — eles posam para mim e eu moldo a forma como se estivesse esculpindo com argila, buscando expressão, fluidez e tensão interna. Então começa a fase de criação: esboço no Procreate, trabalho com referências, crio colagens, adiciono e combino elementos — e só então passo para a tela. Com trabalhos gráficos, o processo é diferente: simplesmente pego o papel e começo a desenhar intuitivamente, rendendo-me às impressões. Muitas vezes, não sei qual será o resultado final — começo a adicionar elementos durante o processo para trazer equilíbrio e estrutura à composição.

Você usa alguma técnica de trabalho específica? Se sim, pode explicá-la?

Nas minhas pinturas, utilizo diversas técnicas, dependendo do período e do tom da série. Por exemplo, nas minhas obras de 2018, criei fundos com acrílico líquido e, em seguida, pintei as figuras por cima com linhas escuras, adicionando gradualmente realces e acentos. Em 2024, trabalhei com uma técnica inspirada na pintura de ícones: construí o fundo com linhas texturizadas para dar volume à pintura, apliquei folha de ouro por cima e usei glaze a óleo sobre os corpos das figuras.

Em minhas obras, o fundo, o ornamento e os desenhos no corpo sempre fluem uns nos outros — às vezes formando flores na pele, como tatuagens.

Nos meus trabalhos gráficos, adoro trabalhar com tinta e canetas tinteiro antigas — aprecio como a imperfeição do traço interrompe sua precisão. Tanto na pintura quanto na arte gráfica, costumo adicionar folha de ouro no final — para mim, não é apenas um elemento decorativo, mas também uma camada simbólica e radiante.

No geral, adoro experimentar técnicas, sempre adicionando algo novo a cada vez.

Há algum aspecto inovador no seu trabalho? Pode nos contar quais?

A inovação no meu trabalho não reside tanto na tecnologia, mas na maneira como combino conteúdo, forma e abordagem. Exploro temas que costumavam ser considerados tabu no passado: personificação, erotismo, shibari e sensualidade feminina — mas os apresento com delicadeza, com profundo respeito pelo corpo e pelas emoções. Também é inovador como combino elementos tradicionais, como folhas de ouro e motivos ornamentais, com uma visão contemporânea da figura.

Utilizo modelos como “esculturas vivas” com as quais trabalho intuitivamente, muitas vezes documentando o processo performático e depois transformando-o em pintura.
A fase de preparação muitas vezes se assemelha a uma performance em si, o que me inspira profundamente. Cada vez mais, trato as fotos do processo como partes significativas e integrais do ato criativo.

Você tem um formato ou meio com o qual se sente mais confortável? Se sim, por quê?

Gosto de trabalhar com técnicas diferentes — não me limito a um único formato ou material. No entanto, sinto-me mais confortável quando tenho espaço suficiente para me movimentar. É por isso que adoro trabalhar em telas médias e grandes. Elas me permitem pensar com o corpo e expressar as linhas livremente, quase como dançar. Combino pintura e desenho: acrílico, óleo, nanquim e folha de ouro. Cada meio abre novas possibilidades, e é na combinação delas que sinto a maior liberdade criativa.

Onde você produz suas obras? Em casa, em um ateliê compartilhado ou no seu próprio ateliê? E nesse espaço, como você organiza seu trabalho criativo?

Trabalho no meu ateliê, que também faz parte da minha casa. É um espaço íntimo e profundamente pessoal, onde me sinto livre. Tudo aqui é permeado de arte — obras inacabadas, esboços nas paredes, tinta no meu avental e traços de toque em todas as superfícies. Meu ateliê tem espaço para telas grandes (e elas continuam se multiplicando!), bem como para obras gráficas.

Tenho uma mesa grande onde trabalho com meu computador, crio esboços digitais e desenho peças gráficas. Minhas tintas e paleta também estão sempre à mão. Tenho um gato que é curioso sobre tudo — especialmente o momento em que aplico a folha de ouro. Ele fica sentado perto, hipnotizado pelos reflexos dourados.

Meu estúdio fica no centro histórico de Barcelona. Uma vez por ano, participo do Open Studio Days de Barcelona e abro minhas portas para novos visitantes.

Seu trabalho te leva a viajar para conhecer novos colecionadores, para feiras ou exposições? Se sim, o que isso te traz?

Quando eu estava começando, minhas pinturas viajaram o mundo sem mim. Compareci pessoalmente pela primeira vez a uma exposição internacional em 2013 — a Exposição Internacional de Arte Ucraniana na Galeria Artpeople, em São Francisco. O prefeito da cidade me apoiou financeiramente, e foi então que percebi a importância da presença do artista — para falar sobre sua obra, compartilhar sua história e se conectar diretamente com colecionadores e espectadores.

Desde então, tenho viajado regularmente — participando de exposições internacionais, festivais de arte e inaugurações de galerias em diferentes países. Durante a pandemia, minha exposição individual foi realizada no Centro de Arte Contemporânea de Bangkok, mas não pude comparecer — os organizadores imprimiram um recorte meu em tamanho real para que as pessoas pudessem tirar fotos ao lado.

Mais recentemente, retornei do Festival de Arte Erótica de Seattle — a maior exposição de arte erótica do mundo, que reúne amantes da arte do mundo inteiro. Para mim, esses eventos não são apenas oportunidades de mostrar meu trabalho — são também uma chance de conhecer novos colecionadores, construir conexões significativas e trocar energias com curadores, galeristas e o público. Essas experiências sempre enriquecem minha prática artística e abrem novos caminhos.

Como você imagina a evolução do seu trabalho e da sua carreira como artista no futuro?

No futuro, sonho em ter um estúdio próprio — um espaço onde não precise me preocupar com respingos de tinta no chão ou nas paredes, onde possa trabalhar em peças grandes livremente e ter um espaço de armazenamento adequado para minhas obras gráficas. No momento, em Barcelona, é difícil pagar tanto por moradia quanto por um estúdio, então trabalho em casa. Moro aqui há três anos — mudei-me em 2022, quando a Rússia invadiu a Ucrânia e começou a bombardear meu país.

Profissionalmente, busco colaborações mais profundas com galerias para poder me concentrar inteiramente na criação artística. Meu objetivo é parar de gastar tanta energia com logística e administração e, em vez disso, me dedicar integralmente ao processo criativo.


Qual é o tema, estilo ou técnica da sua última produção artística?

Meus trabalhos mais recentes — Celebrate Every Curve e Permission to Be Beautiful (118×89 cm, 2025) — são um manifesto visual de aceitação do corpo e da permissão de ser você mesmo sem pedir desculpas. Essas peças nasceram de conversas com mulheres, da minha própria experiência e do desejo de devolver a beleza ao corpo — a beleza como ela realmente é: viva, imperfeita e livre.

Em Celebrate Every Curve, uso o tema de uma cortina — não para esconder, mas para revelar o que a sociedade nos ensinou a esconder. Rafael certa vez abriu as cortinas para deuses e santos — aqui, elas se abrem para revelar algo sagrado em si: o corpo real e vivo.

Duas figuras femininas envoltas em fitas delicadas enfatizam sua fisicalidade. Suas expressões não falam de vergonha, mas do puro prazer de ser — ser elas mesmas, viver em seus corpos sem medo. Ao fundo, rostos borrados sugerem observadores, uma multidão julgadora ou símbolos de controle social — mas esses olhares não têm mais poder. As heroínas não se escondem, não pedem desculpas e não sentem vergonha.

Fui inspirada pela filosofia de Michaela Stark — de que cada dobra é uma história, cada curva é arte e cada parte do corpo merece amor — assim como pela abordagem sagrada de Raphael à forma humana.

Estas pinturas são criadas com técnicas mistas: óleo, acrílico, caligrafia e texto dourado. Trabalho com contrastes de luz e sombra e com linhas improvisadas que parecem um toque. Este é o meu manifesto pessoal — uma beleza que não precisa de permissão.

Você pode nos contar sobre sua experiência mais importante em uma exposição?

Cada um sente e escolhe a exposição mais significativa à sua maneira... Por exemplo, uma das exposições mais importantes da minha vida aconteceu na minha cidade natal, no museu de arte local. Uma empresa de café da capital, para a qual eu havia criado a embalagem, compareceu à inauguração. Parceiros de uma boutique gourmet serviram vinho, um restaurante de sushi recém-inaugurado ofereceu sashimi aos convidados, um artista culinário ofereceu doces e uma banda ao vivo se apresentou em minha homenagem. Amigos vieram de diferentes cantos da Ucrânia...

E sabendo que tudo isso aconteceria, pedi meu parceiro em casamento. Em apenas três dias, costurei meu vestido, levei meu bebê de seis meses e fomos ao cartório. Mostrei a eles um artigo de jornal onde meu retrato estava intitulado "meu marido", e eles concordaram em nos casar. Apenas três pessoas sabiam — minha amiga íntima, o irmão do meu marido e meu filho mais velho.

No dia da abertura da exposição, nos casamos e fomos direto para a exposição. Todos ficaram maravilhados.
Foi um momento profundamente emocionante, e aquela exposição é muito especial, só para mim.

Mas, profissionalmente, algumas das minhas exposições mais importantes aconteceram no Center Contemporary Art (CCAB) em Bangkok, no Seattle Erotic Art Festival e na Stroke Art Fair em Munique. Houve muitas exposições notáveis ao longo do caminho. Meu caminho criativo tem 25 anos — nem muito curto, nem muito longo.
E a parte mais emocionante ainda está por vir.


Se você pudesse criar uma obra famosa na história da arte, qual escolheria? E por quê?

Eu não gostaria de ter criado a obra de outra pessoa. Respeito profundamente o grande legado da história da arte, mas acredito que cada artista tem sua própria voz e visão única.

No entanto, sou profundamente inspirado pelas obras de Gustav Klimt, Rafael, Egon Schiele e Alphonse Mucha — seu senso de linha, ornamento, luz e corpo humano ressoa em mim. Eu não gostaria de criar suas obras, mas sou grato por dialogar com eles através das minhas.

16. Se você pudesse convidar um artista famoso (vivo ou morto) para jantar, quem seria? Como você sugeriria que ele passasse a noite?

Eu convidaria Gustav Klimt. Não para um jantar formal, mas para uma noite tranquila no ateliê — com uma taça de vinho e conversas sobre mulheres, linhas, ornamentos e ouro. Adoraria ver como ele trabalha, como observa o corpo, a emoção, o silêncio entre as pinceladas.

Poderíamos sentar juntos perto de uma tela, compartilhar pensamentos sem palavras — através de olhares, através de detalhes — e deixar a arte falar por nós. E então caminharíamos à beira-mar, beberíamos mais vinho e nadaríamos nus sob o luar. ☾

Ver mais artigos
 

ArtMajeur

Receba nossa newsletter para amantes e colecionadores de arte