Ajouté le 21 oct. 2017
Pedro Miranda da Silva (n. Baixa da Banheira, 1955) é um artista com uma vasta obra e sempre caracterizado pelo seu experimentalismo em diversos meios para o desenvolvimento da sua linguagem, inicialmente na escultura, na medalhística, no desenho e também na pintura, técnicas com que se apresentou nos anos 80 ao Barreiro, participando na exposição mais marcante desses anos, o I Encontro Outonal de Artes dos Novos no Clube 31 de Janeiro “Os Celtas” (1986). Mais tarde, em 1992, integra um grupo de artistas e outros barreirenses ligadas às artes plásticas e ajuda a fundar a associação Artesfera, onde o Pedro sempre se envolveu, com uma intensa atividade de dinamização artística, não deixando contudo de intervir como criador, principalmente como escultor, em alguns espaços públicos do Barreiro e na participação em inúmeras exposições, vindo também neste período a afirmar-se na fotografia e na instalação.
Foi na aproximação a estas novas linguagens, que Pedro Miranda da Silva emergiu em novas experiências deixando-se seduzir com a chegada das novas ideias de Rosalind Krauss , ao identificar a ampliação da noção modernista das categorias de “arte pura”, da pintura e da escultura, para as formas, materiais e conteúdos da era do pós-médium, abrindo-se a uma enorme expansão do campo de possibilidades de criação, como podemos observar em muitas das obras desta exposição, onde se pretende diluir a separação entre a arte e a vida e entre o artista e o público.
Nos seus trabalhos agora apresentados no AMAC, embora correndo algum risco de literalidade, quando Pedro Miranda da Silva nos remete para o imaginário perturbante de Bosch, são as referências de uma época de denúncias, de perseguições de pesadelos e de tentações que lhe interessam, propondo-nos o confronto com as “tentações” do seu e do nosso quotidiano, dentro do contexto cultural, político e social da atualidade. Como escreveu Agamben «…contemporâneo não é apenas aquele que, percebendo o escuro do presente, nele apreende a resoluta luz; é também aquele que dividindo e interpolando o tempo, está à altura de transformá-lo e de colocá-lo em relação com outros tempos, de nele ler de modo inédito a história, de “citá-la”…» , mesmo sabendo, que não pode deixar de se comprometer com o seu tempo.
O referido “escuro”, que o artista não deixa de enfatizar em inúmeros apontamentos que nos são apresentadas nesta exposição, entre eles referimos a coincidência entre a data da assinatura do protocolo deste projeto e o atentado no aeroporto de Bruxelas (March XXII, MMXVI Terrore), são os cartões de crédito “negros”(Corricos), o texto sobre o Panama Papers, a carta de Kela e as almofadas (Diabolum), sobre as quais aliviamos os nossos pesadelos.
Todo o percurso inicial que nos é proposto por Pedro Miranda da Silva é preenchido por tentações e pelo “escuro” de vária ordem, mas que vai sendo gradualmente substituído pelo reconhecimento de uma “luz” que “está em viagem até nós” e que aqui nos é proposta pela pureza formal e a procura da perfeição (Perfectio quaerere) na arte.
Francisco Palma