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Cassia Naomi

Voltar para a lista Adicionado dia 30 de mar. de 2022

Gatos yin yang

Gatos yin yang.

Nessa segunda (28 de março), publiquei um vídeo WIP onde mostro a pintura de dois gatos dormindo. O vídeo em si é um speed paint com aquarela e canetinha, mas no texto de descrição do vídeo eu conto um pouco sobre os dias que antecederam o desenho dos gatos e a pintura do exercício tonal (Embalagem 1).


Embalagem 1.


Aqui no Artmajeur vou comentar como os diários (desenhados ou escritos) foram importantes para eu lidar com minhas emoções e me amar.

Eu cresci num ambiente cheio de brigas, não posso dizer que tive um lar, mas, sendo eu uma criança, não tinha referência para saber que meus pais tinham problemas de personalidade, então eu apenas tentava não ser motivo de mais brigas.

Eu sempre estava alerta. A tranquilidade parecia ser uma ilusão e só gerava ansiedade, porque meus pais eram instáveis, a qualquer momento uma briga poderia começar. Num momento meu pai estava normal, chegava em casa e perguntava onde minha mãe estava, então, eu inocentemente falei a verdade: "não sei". E uma briga começava: gritos, perguntas retóricas, xingamentos ... Por tanto, eu não ficava muito em casa. Passei minha infância numa cidade pequena e dava para brincar na rua ou no mato, e voltar no começo da noite. Se eu ficasse em casa, mesmo se ficasse quieta, receberia uma bronca.

Na adolescência tive gastrite nervosa - lógico. As coisas não melhoravam e eu virei uma garota insegura e me achava esquizita de uma forma ruim. As vezes escrevia sobre isso e fazia rabiscos para exemplificar, em outros momentos eu só desenhava e jogava fora. Eu pensava que as pessoas poderiam ver meus desenhos, fazer perguntas sobre ou descobrirem que eu tinha problemas e falar para meus pais (e piorar as coisas em casa). Então, eu tentava fazer desenhos comuns - que eu achava não ser muito interessante porque não comunicavam o que eu estava passando. Tinha dias que o desenho ficava horrível - era eu chateada com algo, mas me obrigando a desenhar paisagens.
Em casa, era uma confusão. Eu recebia críticas da parte paterna e uma passação de pano (ou elogio exagerado) da parte materna, vi isso claramente quando trouxe para casa minhas primeiras telas com tinta a óleo. Minha mãe colocava molduras caras nos quadros e os pendurava na parede e meu pai olhava para as pinturas e dizia "este elemento está torto".

Foi necessário muitos desenhos jogados fora e situação muito desagradáveis para entender (entre outras coisas) que eu desenho para mim em primeiro lugar.

Haverá crítica, mas se o desenho é meu e para mim, posso escolher aconlhé-lo e admirá-lo. Hoje, penso que agradar os outros ou buscar aprovação é cansativo e estúpido. Eu vou reproduzir o que tenho dentro de mim e as pessoas vão identificar-se sem que eu precise esforçar-me, como já aconteceu comigo quando senti admiração por obras e artistas.

Eu penso que, no fundo, meus pais eram adultos mal resolvidos. Ambos tiveram contato com os desenhos só que um tinha inveja de mim e me enchia de críticas (penso que não eram construtivas, era como se fosse uma caça por defeitos) e o outro tinha expectativas altas e queria determinar o tema das telas. Eu não ia conseguir ir muito longe desse jeito e só servia para me limitar e manioular. Eu pensava que não queria lidar com a confusão das pessoas em cima da minha obra, não queria reviver as coisas que passava em casa.

De qualquer forma, era importante desenhar e escrever para esconjurar a toxicidade do meu corpo, fazer esses diários era como conversar comigo mesma e relfetir sobre os acontecimentos na minha vida e encontrar respostas. 

Bom, meus pais mudavam muito, então não tinha uma casa fixa e nem um quarto que eu pudesse chamar de meu para guardar meus desenhos (registrar minhas fases e progressos). Os desenhos mais antigos que tenho são as telas com moldura e alguns desenhos que fiz na faculdade. Em especial, penso num retrato que fiz do meu irmão (em 1999, no japão), acho que até aconteceu um disputa entre os meus pais para saber quem ficaria com o desenho. Eles adoravam meu irmão porque ele era homem.

Depois, esse desenho sumiu em meio a tantas mudanças de casa. Tenho uma vaga lembrança desse retrato, acho que o nariz não tinha ficado bom, mas eu não recebi crítica por causa disso. Eles adoravam-no, então ficaram cegos para a representação amadora. Era o desenho perfeito para eles. Mesmo com essa história misógina por trás da obra eu gostaria de saber como que eu desenhava quando criança. 

Bom, eu consegui guardar mais desenhos depois que saí de casa (desenhos físicos, digitais e as vezes guardando uma foto de celular do desenho), mas ainda assim era insegura para expô-lo num potfólio online e não tinha recursos para alugar um casa com um cômodo dedicado à produção artística. Mas, eu tinha bloquinhos e desenhava neles, e fazia anotações, e tudo bem. Eu podia fazer autorretratos nos dias que estava triste ou rabiscar planta baixa e coisas que eu queria, mas não tinha como ter. Por exemplo, comprar uma casa com um lugar para eu pintar. Eu pensava nesse dia em que eu teria um teto meu. Realizei esse desejo em setembro de 2021. Foi demais.

Meu quarto estúdio/ateliê.

Eu penso em como fui sabotada e preterida, e sinto tristeza por imaginar quais coisas incríveis eu criaria se tivesse inventivo, se meus pais não fossem machistas e não brigassem tanto e tivessem feito terapia - ou mesmo tivessem escritos seus diários e continuassem a desenhar. Sem as torturas emocionais eu não teria gasto tanto tempo lidando com insegurança e depressão, talvez meus diários gráficos teriam mais cores. 

Hoje, não posso afirmar que superei tudo isso, mas eu desenho e pinto para acessar essa pessoa evoluída que imagino (em outra linha do tempo) ter tido uma vida normal e tingido todo o pontencial e feito coisas lindas. Me apego aos momentos maravilhosos que passo com minhas gatas - vidas peludas e queridas que me seguraram nesse plano nos dias mais difíceis - e tento retribuir esse amor silencioso cuidando delas da melhor forma que conseguir e alimentando os gatos de rua.

Espero que meus processos criativos e minhas obras inspirem outras pessoas a encontrar liberdade num pedaço de papel e um escape para não sucumbirmos. Espero que os diários ajudem muitas pessoas a se encontrarem esclarecimento e cura, ou pelo menos um alívio das dores do coração. 


Abraços,

Cassia Naomi

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Para assistir o vídeo dos Gatos yin yang: https://www.youtube.com/watch?v=8EKELPR2VJw&t=1s


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