Todas as obras de arte de Alberto Simões De Almeida
Projecto Tom Zé (2010) • 11 obras • Baixar
Tom Zé - Inventor de Sons
Com Defeito de Fabricação, novo disco de Tom Zé lançado nos EUA é sucesso[...]
Tom Zé - Inventor de Sons
Com Defeito de Fabricação, novo disco de Tom Zé lançado nos EUA é sucesso na imprensa internacional com jovens músicos norte-americanos e brasileiros e premiado pela crítica paulista
O álbum Com Defeito de Fabricação traz um emblemático texto impresso no disco.
Tom Zé começa assim: "O Terceiro Mundo tem um enorme e crescente população. A maioria dessas pessoas convertidas, por fim, numa espécie de andróide, quase sempre analfabeto, com insuficiente especialização para o trabalho''.
Mais adiante ele diz que os "andróides que se desviam do destino de mão-de-obra barata e passam a produzir cultura apresentam defeitos de fabricação. Dai entende-se por que as 13 faixas de seu disco são intituladas Defeito 1, 2, 3...
Ele vai discorrendo, com bom humor. sobre esses defeitos: O Gene, Curiosidade, Valsar: Esteticar, Politicar...
No mesmo texto, Tom Zé fala : "podemos concluir que a era do compositor acabou" ( ... ) e que está se inaugurando a era do plagiocombinador".
Porém, no seu álbum, o músico mostra o quanto de invenção pode haver mesmo na repetição decorrente das limitadas sete notas da escala diatónica. Um artista que consegue desdobrar o samba da forma que ele faz, dificilmente pode ter suas canções aprisionadas, ou classificadas, no leque dos géneros musicais formais. No seu disco há baião, samba, tango... mas estes ritmos se repetem em diferença.
Ele desloca os géneros e desloca também os instrumentos de suas "funções" habituais. A força dos instrumentos acústicos é potencializada em Com Defeito..., que não dispensa também os timbres eléctricos.
O instrumento acústico, neste disco, não é inserido sobre a base eléctrica para simplesmente dar um verniz, como ocorre frequentemente nos arranjos pop. Os timbres acústicos e eléctricos da música de Tom Zé entram numa trama sonora em iguais condições.
Se o caso é plagiocombinar, então Tom Zé começa plagiando a si mesmo. A faixa Defeito 1: Gene retoma os traços genéticos de Escolinha de Robô (gravada por ele em 1970), e Sândalo (de 1972). O Defeito 2: Curiosidade desdobra-se de A Babá (1972) e por aí vai.
Mas. confirmando a sua singularidade, é como se ele mergulhasse num rio, entrando no mesmo ponto, mas nunca sendo banhado pelas mesmas águas.
Tom Zé mostra que continua estudando o samba, ao entoná-lo de maneira impressionante em faixas como o Defeito 3: Politicar. Trabalha a circularidade e o minimalismo em letra e música no mântrico Defeito 4: Em Emerê. que compôs originalmente para o balet do Grupo Corpo. Lança mão de uma furadeira para o arrastão da poesia concreta. O Olho do Lago, composta por Cid Campos e que virou o Defeito 5.
Ele mesmo dá o crédito das referências com as quais dialoga nos seus chamados "arrastões". Arrasta Jorge Luís Borges, Caetano Veloso e Gilberto Gil; Martinho da Vila e o pagode: Tchaikovsky e música medieval; trovas provençais; Ernesto Nazareth, Zequinha de Abreu e a música pós-barroca e renascentista italiana; Flaubert com música caipira; sanfoneiros nordestinos.
E faz um disco delicioso de se ouvir, no qual os efeitos de sua inquietação transculturalista não trazem os defeitos da empolada erudição. Com Defeito... é um disco lúcido e lúdico.
Com Defeito de Fabricação, novo disco de Tom Zé lançado nos EUA é sucesso na imprensa internacional com jovens músicos norte-americanos e brasileiros e premiado pela crítica paulista
O álbum Com Defeito de Fabricação traz um emblemático texto impresso no disco.
Tom Zé começa assim: "O Terceiro Mundo tem um enorme e crescente população. A maioria dessas pessoas convertidas, por fim, numa espécie de andróide, quase sempre analfabeto, com insuficiente especialização para o trabalho''.
Mais adiante ele diz que os "andróides que se desviam do destino de mão-de-obra barata e passam a produzir cultura apresentam defeitos de fabricação. Dai entende-se por que as 13 faixas de seu disco são intituladas Defeito 1, 2, 3...
Ele vai discorrendo, com bom humor. sobre esses defeitos: O Gene, Curiosidade, Valsar: Esteticar, Politicar...
No mesmo texto, Tom Zé fala : "podemos concluir que a era do compositor acabou" ( ... ) e que está se inaugurando a era do plagiocombinador".
Porém, no seu álbum, o músico mostra o quanto de invenção pode haver mesmo na repetição decorrente das limitadas sete notas da escala diatónica. Um artista que consegue desdobrar o samba da forma que ele faz, dificilmente pode ter suas canções aprisionadas, ou classificadas, no leque dos géneros musicais formais. No seu disco há baião, samba, tango... mas estes ritmos se repetem em diferença.
Ele desloca os géneros e desloca também os instrumentos de suas "funções" habituais. A força dos instrumentos acústicos é potencializada em Com Defeito..., que não dispensa também os timbres eléctricos.
O instrumento acústico, neste disco, não é inserido sobre a base eléctrica para simplesmente dar um verniz, como ocorre frequentemente nos arranjos pop. Os timbres acústicos e eléctricos da música de Tom Zé entram numa trama sonora em iguais condições.
Se o caso é plagiocombinar, então Tom Zé começa plagiando a si mesmo. A faixa Defeito 1: Gene retoma os traços genéticos de Escolinha de Robô (gravada por ele em 1970), e Sândalo (de 1972). O Defeito 2: Curiosidade desdobra-se de A Babá (1972) e por aí vai.
Mas. confirmando a sua singularidade, é como se ele mergulhasse num rio, entrando no mesmo ponto, mas nunca sendo banhado pelas mesmas águas.
Tom Zé mostra que continua estudando o samba, ao entoná-lo de maneira impressionante em faixas como o Defeito 3: Politicar. Trabalha a circularidade e o minimalismo em letra e música no mântrico Defeito 4: Em Emerê. que compôs originalmente para o balet do Grupo Corpo. Lança mão de uma furadeira para o arrastão da poesia concreta. O Olho do Lago, composta por Cid Campos e que virou o Defeito 5.
Ele mesmo dá o crédito das referências com as quais dialoga nos seus chamados "arrastões". Arrasta Jorge Luís Borges, Caetano Veloso e Gilberto Gil; Martinho da Vila e o pagode: Tchaikovsky e música medieval; trovas provençais; Ernesto Nazareth, Zequinha de Abreu e a música pós-barroca e renascentista italiana; Flaubert com música caipira; sanfoneiros nordestinos.
E faz um disco delicioso de se ouvir, no qual os efeitos de sua inquietação transculturalista não trazem os defeitos da empolada erudição. Com Defeito... é um disco lúcido e lúdico.