Adicionado dia 7 de jun. de 2014
Realmente inadequado o título deste artigo. O simples flui e evolui, livre em seus objetivos. Assim é o Universo há bilhões de anos. Assim é a Natureza, seja na força de seus elementos, ou nas inúmeras possibilidades de vida mineral, vegetal e animal. Transformam-se cinzas e lavas em cristais e grandes rochas, envoltas por matas e campos férteis, onde correm rios aos mares. Tudo a favor da vida. Vida que se movimenta em águas profundas e superficiais, pela atmosfera e por todo o solo da Terra, em perfeito equilíbrio. Neste contexto, impossível negar que o homem seja o único ser desprovido das capacidades espirituais de fluir e evoluir.
Fluir compreende ser consciente de sua força natural, livre o suficiente para perceber seus limites, respeitar e interagir com todos seus iguais e os demais seres da natureza. Evoluir, poderíamos considerar a aplicação da percepção vivenciada, buscando o bem comum nas relações familiares, sociais, governamentais e empresariais.
Não devemos confundir evolução com progresso. Este, por muitas das vezes envolve forças antinaturais, como poder, manipulação, corrupção e escravidão por interesses materiais, pessoais ou de grupos que lideram a humanidade. O ser evolutivo desapega-se de tudo que possa impedir sua fluidez, mas utiliza tudo que possa criar e colaborar para o crescimento de sua força natural e da força coletiva. Afirmar isso, é fazer-me inimigo da história, mas a história jamais terá argumentos contrários à Natureza e ao Universo, já que ela é criada e mantida exatamente pelo poder, manipulação, corrupção e escravidão exercidos pelos “donos” da Terra, através da destruição, opressão e ganância.
Contudo, não podemos negar que o ser evolutivo, com todas as suas características naturais, fez e continua fazendo parte da história, desde épocas remotas, cujo livre arbítrio dividiu os campos de contenda entre eles e seus opressores, sempre com vitória garantida para esses últimos. Por quê?
Vejamos. Nos primórdios de sua existência, o homem, com toda sua capacidade criativa, talvez fosse o ser mais frágil do Universo. Despido, indefeso, sujeito às intempéries, incapaz de voar, nadar, e mesmo correr, tudo teve que perceber, pensar e agir, criando alternativas que o protegessem. Temia a Natureza. Respeitava-a por sua própria vida e passou a cultuá-la. Mas criou armas e instrumentos contra outros seres naturais para garantir sua sobrevivência e passou a tê-los como inimigos, embora lhe dessem alimentos, roupas e abrigos. Começou a ser um predador insaciável.
Um dia, percebeu o homem que viver em grupos facilitava sua sobrevivência e criou a agricultura e a pecuária, deixou de ser nômade e o sentimento de conforto em pertencer a determinado grupo fez com que surgissem as primeiras “gangs” da Terra. Nos grupos, os mais fortes tornaram-se líderes e ditaram regras de conduta. Quem não as cumprisse seria eliminado do grupo. Começou o ser evolutivo a fluir menos, impedido que era pela opressão dos líderes. As “gangs” criaram o nacionalismo e o patriotismo. Para provar seu poder, os líderes proclamavam extermínio de outros grupos. E iniciaram as conquistas e guerras de todo o sempre, até os dias de hoje. Em vez de criar, o homem preferiu obter e acumular os bens dos inimigos, subjugando-os em regime de completa escravidão. Predador da própria espécie, o homem passou a ser classificado pelo poder e o dinheiro: nobre, plebeu, pária, escravo, etc...
Quanto à Natureza, foi substituída por um Deus à semelhança do homem e todos os líderes passaram a ser representantes da vontade divina. Essa característica do líder, bloqueou mais ainda a fluidez do ser evolutivo, que não só passou a temer o líder aqui na terra, como no inferno ou no céu. Essa foi a pior fase do ser evolutivo, pois por fazer um simples chá de ervas, poderia ser torturado, mutilado e queimado.
E o espírito do homem, que fora criado fluindo livremente (como tudo no Universo), passou a ser redimensionado, doutrinado, esculpido, bloqueado e proibido. E para isso colaboraram a família oprimida, a educação manipulada, a religião e o governo, líderes de “gangs” das quais o ser evolutivo nem sempre pensou em participar.
Por outro lado, a força evolutiva do Universo a tudo impulsiona. E, teimosos, os seres evolutivos conseguiram fluir em meio a tanta opressão, trazendo ao mundo instrumentos e mecanismos materiais e filosóficos. Provocaram os opressores através das manifestações artísticas e tecnológicas, com as quais ofereceram, à humanidade, várias alternativas de conforto e progresso. Foram as batalhas vencidas na história, embora os louros às vezes não encontrassem suas cabeças. A partir da Idade Moderna, independentemente do grau de opressão dos líderes e de depressão dos seres evolutivos que compõem a humanidade, esta se tornou cada vez mais dependente do ser evolutivo e suas criações, pois todo empreendimento social necessita de inovação para manter-se atuante, ainda que apenas para alimentar os egos opressores.
Os seres evolutivos não perdem suas características espirituais ou, se as perderem, buscarão formas de recuperá-las, superando bloqueios com a força criativa. Podemos dizer que, hoje, a humanidade divide-se em “gangs” geopolíticas, cujos governos e empresas ainda possuem as mesmas características dos líderes ancestrais, porém nunca dependeram tanto do ser evolutivo e somente poderão contar com o potencial criativo de sua população e de seus colaboradores se adotarem princípios condizentes com o espírito de fluidez e evolução do Universo.
Infelizmente, a maioria dessas "gangs" contemporâneas perderam por completo suas características naturais, de forma que governos corruptos oprimem o povo e empresas com carga tributária, empresas oprimem seus colaboradores exigindo criatividade para conquistar mercado e pagar seus impostos. A postura nas relações entre dirigentes e a área de RH e os eventos contratados por RH nas suas relações com os colaboradores da empresa muitas das vezes constituem atividades que têm por objetivo o cumprimento de metas com vistas a benefícios fiscais, quando caberia ao RH criar, na empresa, ambientes e normas propícios para os indivíduos criativos e não obriga-los a palestras e exercícios, que os transformam em robôs, mal humorados, retificadores de produtos.
E a criatividade dos líderes? Obviamente, a criatividade aflora em proporção ao exercício do desapego. E esse afloramento independe de prazos determinados, pois a cada momento presente, haverá um conjunto de percepções sempre possíveis a partir do repouso do ego. Percepções que analisam e discutem entre si e chegam à solução inovadora do problema. O desapego é o mecanismo natural para a comunicação entre líder e colaboradores, pois todos se sentirão responsáveis pelo objetivo e terão certeza de que fazem parte da consciência do grupo. Na empresa evolutiva, o desapego dos medos, soberbas, vaidades e ambições do ego, seria o fator predominante para definição das lideranças, e não o conhecimento, tempo de serviço e capacidade de comando, fatores esses que podem ser adquiridos por qualquer ser evolutivo do grupo. Aliás, o conhecimento é resultado da capacidade de percepção e o ser evolutivo é sedento de conhecimento, por isso capta seu universo interior e o universo exterior com todos seus seres e elementos e executa a comunicação entre ambos os universos através da criatividade.
Tenho para mim que o Universo, em sua evolução, fará com que os líderes percebam o tempo perdido pela humanidade em milhares de anos de existência, em que descuidadamente entregou-se aos deuses contemporâneos, dinheiro, ambição, desrespeito, política, corrupção e ganância, cujos rituais de adoração vêm sendo praticados por governos e empresas, desvirtuando, inclusive, o conceito de criatividade e disseminando esse tipo de religião entre seus governados e liderados.
Voltando ao título do artigo, o ser criativo não precisa ter coragem, pois segue evoluindo por força das leis universais. Ele, contudo, sofrerá atropelos, mas quanto mais evoluído menos permitirá que fatores antinaturais o impeçam de cumprir sua jornada, da mesma forma que estrelas, galáxias e todo o Universo.