Adicionado dia 27 de jun. de 2008
Essa pesquisa começa no ano de 2007 em Salvador onde trabalhava no projeto da prefeitura “Salvador Grafita”, sempre pintei na rua, mas nesta época pintei muito mais, e conheci e estudei melhor a arte urbana, maneiras diferenciadas de se interferir na cidade, com colagens, pinturas, performances, etc. Neste período também dividia meu tempo com os estudos de gravuras no MAM-Ba (Museu de Arte Moderna da Bahia), onde estudei gravura em metal, xilogravura, serigrafia e fiz outros cursos, mas fiquei fascinado pela repetição da imagem, a gravura me dava possibilidades que sempre quis mas nunca tive na pintura. Mas ainda tinha um problema: como iria levar técnicas tão refinadas e delicadas para uma arte urbana?
Então comecei a pensar e experimentar varias maneiras, como pôster com silck, recorte de adesivos, pintura com projeção etc. Porém, não era nada disso! Porque sempre surgia algumas inviabilidades na questão do suporte, da aplicação, de custos financeiros e mesmo de resultados finais, em suma, acabei por constatar que uma pesquisa é um laboratório.
O que eu queria mesmo era poder estampar imagens e palavras reais do nosso cotidiano urbano, e que elas fossem repetidas serialmente, mas que eu pudesse manipular a cor e o espaço que elas ocupassem, além disso, teria que ser algo de baixo custo, de fácil transporte, e atender outras especificações e características da arte urbana para estar relacionada neste contexto.
Percebo um dia que as pessoas já tinham um jeito especifico de marcar seus próprios territórios urbanos, todos os números das casas de bairros onde morei e de todas as casas de COHAB, os números dos ônibus, dos carros de lixo, das salas de aula, até as placas de “vende-se das casas e comércios locais, todos estes registros foram feitos com a técnica do molde vazado a stencil-art. Pensando nisso descubro que o stencil é a melhor maneira de se repetir seriamente em qualquer superfície da cidade o que eu queria, pus-me, então, a montar minhas matrizes a partir do desenho do objeto, tirando uma cor só e passei a reproduzir também com três cores - fundo, sombra e a marcação - sempre a partir do desenho”.
Mas o que eu faria se meu desejo era trabalhar com imagens mais reais, maiores, e de domínio popular e inserir meios tecnológicos na produção dos trabalhos porque acredito que tecnologia é o futuro e meu trabalho tem que esta inserida nisto também? Comecei a pegar fotos de bancos de imagem na internet, fotos de jornais e de amigos e passei a realizar um trabalho de vetorialização em um programa gráfico, que consiste em ampliar e plotar as imagens para serem transferidas do carbono para um papel mais grosso, logo em seguida são recortadas artesanalmente com estilete formando a matriz que impressa tem uma qualidade quase que fotográfica da imagem.
Com este recurso para estampar as imagens na cidade dou início a uma pesquisa sobre violência urbana e moradores de rua, reproduzindo cenas cotidianas de moradores de rua, crianças, adolescentes, homens e mulheres, idosos... Pessoas que foram descartadas de alguma maneira pela sociedade... Novamente essa pesquisa me leva a um outro caminho, a questão do suporte: onde pintar? Em que circunstância cabe aquela pintura naquele lugar? Foi aí que tive a idéia de pegar objetos que foram jogados fora por não servirem mais para sua utilidade especifica e imprimir neles minhas imagens. Passei a utilizar objetos como suporte que podem ser portas de geladeiras, tijolos de construção, azulejos, janelas de casas... Imprimo minha arte agora não só na cidade, mas em telas e suportes alternativos.
Ainda não contente com este mecanismo de produção eu queria algo mais viável,mas como seria isto? Então tive uma lembrança de escola: reproduzíamos de maneira ampliada utilizando retroprojetor. A partir daí foi que comecei com a produção atual e passei a construir as matrizes através de projeção da imagem do computador, com isso não dependo mais de uma ploter para ampliação e reduzo os custos. Eu mesmo passei a fotografar os meus modelos ou objetos a serem impressos e a estampar figuras relacionadas à violência urbana... Pessoas gritando, nervosas, e em momentos de pura explosão nervosa... Para estampar essas imagens na cidade e para que os modelos possam se ver, para que o mundo retratado tenha acesso a sua própria imagem nesses momentos de fúria o que geralmente lhes causa um choque e reflexão.